Artigo escrito por Evandro Barreto e publicado no blog Comensais
Sherlock Holmes comia lá
Se alguém propusesse a você sair da França só para almoçar na Inglaterra e voltar no mesmo dia, o que você diria? Pois eu digo que é uma proposta decorosa. Desde que seja para comer no “Simpson’s – in-the-Strand”.
Integrado ao Hotel Savoy, de Londres, o Simpson’s existe desde 1828 e serve o roastbeef mais famoso do mundo, maturado por 28 dias e levado à sua mesa em carrinhos cobertos por grandes tampas de pratas com mossas centenárias. O veículo é pilotado por um especialista no assunto, que parece trabalhar na casa desde a fundação. O nome dele é Giuseppe, a postura é de lord e a perícia de Pitanguy. Em movimentos precisos, ele corta do grande assado de “scottish beef” fatias exatamente da espessura e no ponto que você pedir. O perfume cheio de sutilezas desprende-se da monumental peça de carne, antecipando um sabor que se revelará em camadas. Ancorando o paladar, maravilhosos yorkshire puddings mergulhados no molho, raiz forte, batatas discretas e perfeitas. Para coroar a experiência, cintilações de rubi nos copos de Chateau Martour, um bordeaux daqueles que os ingleses sabem escolher como ninguém.
No começo, o Simpson’s era clube de xadrez, onde bebia-se café turco e fumava-se sem culpa. Até hoje, a área de restaurante chama-se “Grand Divan” e convive com o britaníssimo Knights Bar. Ao longo da história, passaram por ali, além da família real, personagens como Charles Dickens,George Bernard Shaw e Vincent Van Gogh (este, provavelmente convidado). Segundo registros insuspeitos de Sir Arthur Conan Doyle, Sherlock Holmes era cliente assíduo.
Certas normas de conduta seguem inflexíveis. Ao reservarmos mesa, ainda no Brasil, fomos informados por um solene Mr. Neil Milanga de que o atraso máximo permitido seria de quinze minutos e não se admitiam no recinto trajes e periféricos como jeans, bermudas, shorts, trainings, camisetas, tênis e sandálias – inclusive havaianas. Como concessão aos tempos modernos, dispensava-se gravata no almoço.
Depois da sobremesa, do café e do cálice de Chartreuse (La Blonde prefere o verde), ainda sobrava tempo na cidade, antes de tomarmos na estação de Saint Pancras o trem que nos conduziria de volta a Paris em duas horas e poucos minutos, pelo Eurotunnel.
La Blonde e eu decidimos levar o filho Victor, que não conhecia Londres, para um giro pelos lugares de que mais gostamos – da beira do Tâmisa aos jardins da outra Beth, da Sloan Street a Trafalgar Square. Claro que confortavelmente aboletados nessa admirável instituição – o táxi inglês. Ainda importarei um para passear na orla carioca.
É óbvio que o Harrod’s não poderia fica de fora. Na varanda (ensolarada! em Londontown!), saboreamos, em pequenos goles, taças de chocolate do “Ladurée”.
God save the Queen!
Como ir de Paris até Londres
. De avião. A viagem de avião dura 1h20. Veja aqui as melhores ofertas da Air France.
. De trem. O trajeto pode variar de alguns minutos dependendo do trem que você escolher, mas a viagem dura em torno de 2h30. Compre sua passagem antecipadamente – clique aqui – para garantir os melhores preços.
. De carro. A viagem de carro dura em torno de 5h30 e é possível estacionar o carro dentro do Eurostar, verifique apenas os valores e disponibilidades de data e hora. Obtenha o orçamento das principais locadoras de carro na França aqui.
. De ônibus. Esta é a opção mais barata e também a mais longa, com 9 horas de trajeto. Consulte valores e horários, e faça a compra da passagem pelo site da empresa de ônibus OuiBus (clique aqui).
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60 Comentários
Cláudia Oiticica
It’s so British….
Dodô em Londres, sempre em grande estilo. Desde os memoráveis encontros com David Niven ( a long time ago…). Verdade!!
Junto com Beth, um casal ímpar. Disposição, alegria de viver.Acho o máximo!!!
Valéria
Oi Lina!
Um texto divino, como deve ter sido o passeio. Viajei com vocês!rss
Parabéns Dodo e beth!
abraços!
LuciaC
Beth&Dodô
nos Comensais e hoje, agora, aqui.
Revivendo Londres e o Grand Divan com vocês!
O que é muito bom e nos traz alegria lembrar,
a gente repete, repete e quer mais!.
XXX
Rosalia Velloso
Almoçamos lá em setembro, marido, filho, a nora alemã e eu. A ida lá foi escolha minha, instigada que fui por comentários da Beth e da Loulou aqui no blog. Gostamos muito da experiência, todos nós curtimos muito aquele ritual todo, e o roast beef é realmente excelente, imperdível.
Minha nora fez as outras duas ótimas escolhas: o chinês Mr Chow e o indiano Veeraswamy. Marido e filho ficaram com os pubs. Comecei até a me apaixonar por Londres: pra gostar de um lugar, demorei a descobrir, primeiro tenho que gostar da comida…
Marcia Lube
Endereço anotadíssimo !
Só em ler o texto já sentí vontade de estar lá também !
A narrativa do Dodô é tão gostosa quanto suas incursões gastronômicas. E ainda tem a companhia da Lady Blonde com disse o Eymard.
Adriana Pessoa
O Simpson’s é o preferido também da rainha Elizabeth e foi lá que ela comemorou seu último aniversário.
O texto do Dodô , contando essa experiência ao lado de outra rainha, está como sempre maravilhoso!
Patrícia V.
Texto muitíssimo bem escrito, parabéns! E dica anotada para a próxima ida a Londres.
Aproveitei para dar uma espiada no Comensais, muito interessante! E não sabia que Eymard integra o grupo!
Silvana
Grande dica pra quem vai passar por Londres e Paris! Essa maravilha toda é acessível aos meros mortais, ou algo caríssimo?
Loulou
Saudades imensas daquele roast – faz parte das melhores lembranças da minha vida. O Simpson’s-in-the-Strand é uma verdadeira instituição britânica, tão tradicional quanto à monarquia e talvez ainda mais querida. Bem assim como o Dodo descreveu. Os que tiverem a oportunidade não devem perder a chance.
eymard
Deliciado que já estava com a saga de Sir and Lady Blonde lá no comensais, vejo que Lina, igualmente encantada, resolveu dividir o prazer com seus leitores. O Savoy gastou cerca de 350 milhoes de dolares em reformas para receber, a altura, o casal. Dodo, no entanto, economiza nas palavras porque sabe usa-las. Preciso. Cirúrgico. Pitanguy. Transforma a experiencia em sabedoria e elegancia para o delirio dos comensais.