A historiadora Natália Bravo passou dois dias em Reims, na região de Champagne, e descobriu – entre outras coisas – o papel da cidade nas guerras mundiais.
Artigo escrito pela historiadora Natália Bravo
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No último fim de semana, troquei de papeis: a Natália guia-historiadora ficou em Paris, e a Natália turista fez as malas, rumo à cidade de Reims.
A cerca de 150 km da capital francesa, Reims está situada na famosa região de Champagne, onde são produzidas as tão célebres bebidas, de qualidade reconhecida no mundo inteiro.
Em Reims também está localizada a Catedral de Notre-Dame de Reims, onde os reis franceses eram coroados. Segundo a lógica do absolutismo monárquico, os reis eram figuras sagradas, e a legitimidade para o exercício do seu poder vinha daí: como representantes de Deus na terra, sua coroação ocorria no interior das igrejas, e essa era uma cerimônia de grande importância e valor simbólico.
Como amante da história e apreciadora de champanhes, tinha grandes expectativas em relação a essa viagem. Marquei para o fim de semana duas visitas-degustação, às caves Mumm e Taittinger.
Apesar das minhas altas expectativas em relação a esses dias, o resultado foi ainda melhor do que eu esperava: a história, sempre ela, a me encantar e a me surpreender.
O que descobri e o que aprendi ao caminhar pelas ruas, observar os monumentos e visitar lugares de memória de Reims foi tão interessante que decidi-me por partilhar essas histórias com vocês.
Primeiro dia
No primeiro dia de viagem, a caminho da cave da Mumm, me deparo com um prédio de tijolos no qual havia uma placa e algumas inscrições. O que estaria escrito ali?
O nome da rua me era bastante sugestivo: Franklin Roosevelt. Presidente democrata norte-americano, que se juntou ao esforço de guerra aliado e, a partir de 1944, contribuiu de forma essencial para a sua vitória contra as forças autoritárias do Eixo, Hitler e Mussolini incluídos, durante a Segunda Guerra Mundial.
Ora, uma placa situada numa rua com esse nome merece ser lida. Além disso, independente dos lugares em que estejam situadas, sempre que posso eu leio o que dizem as placas das ruas francesas. Me encanta a relação do francês com a história: o seu hábito de narrá-la a céu aberto: pelas ruas, pelas esquinas, e não apenas em museus e monumentos históricos.
Aqui, a história extrapola o espaço fechado e restrito dos institutos históricos, das escolas, dos livros especializados. A história está, literalmente, nas ruas. E a preocupação dos franceses com a preservação dessa memória e com a difusão dos seus valores nos proporciona uma oportunidade riquíssima de sermos os leitores dessas páginas, que vão sendo escritas e reescritas ao longo dos anos.
O fato é que eu não me arrependeria, nem por um segundo, de ter parado para ler as inscrições na placa da rua Franklin Roosevelt: elas nos contavam que ali, naquele prédio, em 7 de maio de 1945, havia sido assinada a capitulação nazista, que conduzira ao fim da Segunda Guerra. Hoje, no mesmo espaço, funciona o Museu da Rendição. Que incrível! O armistício que levou ao fim um dos conflitos mais sangrentos e traumáticos do século XX ocorrera em Reims. Comemorado a muitos brindes de champanhe, eu pensei.
Segundo dia
Mas as surpresas que a cidade me reservava não pararam por aí: no dia seguinte, fui conhecer a cave da Taittinger e ali descobri outras histórias memoráveis, como a do conde de Champagne, a quem, durante a idade média, pertenciam aquelas terras. De origem nobre, o guerreiro Thibaud de Champagne apaixonara-se perdidamente pela sua tia: a rainha da França, e esposa do rei Luís IX!
Como forma de expiar os seus pecados, Thibaud saiu em cruzada rumo ao oriente. Ali, pretendia converter à cristandade os habitantes locais, a serviço do reino católico ao qual pertencia. No percurso, chegou a Jerusalém, a cidade santa, que os cruzados desejavam reconquistar para a cristandade. E foi justo nesse local que ele descobriu, e trouxe para o seu condado, uma das uvas mais célebres na produção de vinhos e champanhes franceses: a uva Chardonnay.
Descobri ainda que a cave onde se produzem os champanhes Taittinger foi, no passado, o subsolo de uma importante igreja. Ali, naquele mesmo subsolo, beneficiados pelas boas condições de umidade e de luminosidade, os monges produziam vinhos e desenvolviam as técnicas dessa bebida tão bem reputada, que hoje leva o nome da região: champagne.
Durante a Revolução Francesa, a igreja foi destruída. Mas o subsolo ficou preservado, assim como uma estreita e escura escadaria, que no passado conduzia os religiosos até o local onde produziam as bebidas transformadas, com o passar dos anos, em grandes símbolos da cultura francesa.
Enquanto ouvia as explicações sobre o processo de produção dos champanhes, me distraía tentando decifrar os desenhos, os números, as inscrições nas paredes daquele local que me parecia tão povoado de histórias. Será que aquele lugar teve outros usos, além do que lhe foi dado pelos monges católicos do passado? Não resisti e perguntei à nossa guia. Grata surpresa! Ela nos disse que sim. Que aquele espaço subterrâneo, labiríntico e mal iluminado ajudou a salvar muitas vidas durante as guerras do século XX.
Ali havia encontros clandestinos durante as guerras. Ali também funcionou um hospital improvisado, ao abrigo das hostilidades adversárias, durante a primeira guerra. Ali se esconderam milhares de homens e de mulheres, vitimadas pela eclosão de dois conflitos tão brutais quanto a 1ª e a 2ª guerras.
Aquelas histórias permaneciam ali. Aquelas pessoas, de alguma forma, eternizaram-se nos escritos que deixaram para a posteridade. Para que nós os encontrássemos, tantos anos depois. Naquele instante, senti-me como embriagada, não pelo álcool das garrafas de champanhe ao nosso redor, mas pela riqueza daquelas histórias. A história tem esse poder.
Saí de Paris acreditando que havia deixado a historiadora em casa. -Hoje e amanhã, serei apenas turista!
Mas não. A historiadora Natália esteve comigo o tempo inteiro. Saí dessa experiência tão rica com a cabeça fervilhando de ideias. Dia 8 de maio é feriado na França, em comemoração ao fim da Segunda Guerra Mundial. Que, aprendi, oficializou-se em Reims, a cidade dos champanhes. Por que não comemorá-lo do mesmo modo? Se você compartilha comigo o encantamento pela história e estiver em Paris nessa data, venha participar do nosso percurso sobre a ocupação nazista em Paris e a Segunda Guerra. Terminaremos o nosso trajeto como fizeram nossos antepassados: celebrando com champanhe o fim das hostilidades de guerra, e torcendo para que o espírito de cooperação entre as nações, nascido no pós-guerra, sobreviva ao século XXI. Até lá!
Sobre a Natália
Natália é historiadora e carioca. Após concluir o curso de mestrado e trabalhar por anos com ensino de História, fez as malas e partiu rumo à concretização de um sonho antigo: continuar os estudos em Paris.
Para fazer a sua reserva e obter mais informações, entre em contato com a Natália pelo email [email protected]
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10 Comentários
Rita de Cassia Duarte
Consigo chegar até lá com passe Navigo?
Rodrigo Lavalle
Rita, não. É preciso comprar uma passagem de trem na estação.
Andrea
Semana passada visitamos a Veuve Clicquot (+ comercial) e a Ruinart, que foi incrível! Vale muito conhecer Reims! Imagino com um passeio guiado… show! Muito obrigada pelo post!
Claudia
Ótimo artigo! Natália, o que sugere de hospedagem. Iremos agora em maio, e estamos procurando um bom lugar para hospedagem em Reims ou Epernay
Rodrigo Lavalle
Claudia, clique aqui e veja dica de hotel simples e barato em Reims e aqui para dica de hotel em Épernay.
Maria de Lourdes Canale
Natália, volte a Reims para contar mais sobre a catedral e os incêndios e sobre Joana D’Arc.Estive lá a 2 anos, visitei a cave Tattinger, mas o que mais me surpreendeu foi a igreja e seus vitrais, e sobre Joana D’Arc.
Rodrigo Lavalle
Maria de Lourdes, obrigado pela sugestão.
Rita Cruz
Uma viagem enriquecedora é assim! Eu achei superinteressante as placas explicativas sobre os pontos historicos/turisticos em varias praças em Paris. Compartilhar esses fatos nos faz ter outros olhos sobre a historia da humanidade.Não estare aí no país no dia 07 de maio, ( que pena!!!)pra esse passeio comemorativo.Mas farei um brinde , do lado de cá do Atlantico.Valeu Natália! Valeu Conexão Paris!
Rodrigo Lavalle
Rita, obrigado pelo comentário.
PATRICIA
Ótimo artigo, Natália! Obrigada por compartilhar. Lendo esse post, lembrei de algumas histórias de grandes caves que escondiam seus melhores vinhos das barbáries da guerra, fazendo fundos e paredes falsos. E pensar que algumas dessas garrafas ainda existem hoje… Elas também podem nos contar parte da história.