O jornal Le Monde publicou resultados de uma pesquisa eleitoral baseada no coeficiente de urbanidade dos eleitores.
Nos espaços chamados periurbanos, situados a 50 km das grandes cidades, a extrema direita obtém excelentes resultados, superiores a sua média nacional.
O voto Front National da França periurbana não é novidade. Em 1995, 2002 e 2007 Jean Marie Le Pen obteve seus melhores resultados nesta área. A novidade é que sua filha, Marine Le Pen, obtem nas pesquisas atuais resultados superiores aos do pai.
Como explicar esses dados? Nos últimos anos esses espaços que rodeiam as grandes cidades conheceram modificações sociológicas e demográficas. Os agricultores desapareceram e cederam o lugar às populações expulsas dos grandes centros urbanos ou das periferias mais próximas.
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Conheço pessoas que moram exatamente a 50 km de Paris. Todos argumentam que a troca de um apartamento em Paris por uma casa no campo é uma escolha livre. Nunca acreditei nessa “escolha” e a pesquisa confirma que nesta troca existe uma grande parte de “imposição”. As pessoas escolhem a casa, o jardim, o espaço, o silêncio por uma imposição ligada ao preço do mercado imobiliário das grandes cidades. Um casal, para ter quartos para os filhos, espaços de brinquedo e área verde é obrigado a se afastar cada vez mais do centro urbano.
As frustações sociais geradas por essa mistura de afastamento escolhido e imposto explicam o voto da extrema direita. O preço pago para ter casa com dois ou três quartos e um minúsculo jardim é alto: quase quatro horas nos transportes todos dos dias, deserto cultural e isolamento social. Na reta final, a rejeição do outro, sobretudo se ele é estrangeiro.
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27 Comentários
David
O problema é que perto da região periurbana ficam periferias como Montfermeil. Talvez o medo seja o fator que mais alimenta o voto da extrema direita. Apesar de não estar muito animado com os outros candidatos (Sarkozy e Hollande) espero que Le Pen não vá ao segundo turno.
laura
Li ontem em algum lugar que François Hollande diz que vai taxar os muitos ricos em 75% (deve ser mentira, pq nao pode haver estupidez desse tamanho) e que estes ja estao planejando a fuga pra Suiça e Monaco. Acho que foi na Vogue.
conexaoparis
Laura
Não é mentira. Está no seu programa.
Jacqueline
E ainda ganham voto dos parisienses que permaneceram e estão incomodados com a imigração.Não é à toa que olham a área de Montmartre com desdém ou receio. Lá os rostos mostram vários tons.
Vera C M
Candidatos como Marina Le Pen fazem parte do jogo democratico. Mas ainda que ela possa ter mais aceitaçao que seu pai, certamente, seu modo de pensar nao eh o que a maioria francesa deseja. A candidata segue estagnada nas sondagens, preferencia dos que sao eternamente devotos a direita da FN.
O candidato socialista, Francois Hollande, segue tranquilo na frente, seguido do Sarkozy…
MIRA TORQUATO
E o mais interessante de tudo é que nós , seres humanos intra e extra-muros, ditos seres políticos e sociais, e pretensamente orgulhosos do nível cultural que possuímos, nem ao menos nos damos conta de que, ao votar na Direita, estamos, primeiro de tudo perpetuando este “status quo”, e “nos” excluindo ” a nós mesmos”, cada vez mais.
Afinal, atacar os q se encontram, como nuito bem disse nosso caro Maurício, “um degrau abaixo na cadeia alimentar” é envenenar nossa ppia “comida”. È um suicídio,, primeiro moral, que depois toma a forma de verdadeiro genocídio. Enfim,como se diz por aqui, pelas terras tupiniquins: È o rabo abanando o cachorro… Bjos a todos.Obrigada Lina
Sil
Muito interessante essa pesquisa! Obrigada por compartilhar conosco.
Nesse voto rancoroso, a “expulsão” de Paris e suas benesses precisa encontrar um culpado — e o que melhor que um imigrante para se jogar a culpa toda?
Essa cólera surda grita alto, e certamente se fará ouvir nas eleições…Quero ler mais a respeito, acho até que vou voltar à leitura do meu intelectual francês preferido, o P. Bourdieu.
Merci!
Maurício Christovão
Continua a dúvida de como fica o slogan da escassez: no idioma de Voltaire: “Farinha pouca, meu pirão primeiro”. O pessoal da periferia se sente excluído e desconta nos imigrantes, que estão um degrau abaixo na cadeia alimentar. Por isso essas ideologias xenófobas têm tantos defensores em tempos de cride econômica.
Dodô
Lina,
Excelente! E o preocupante é que essa mesma dinâmica de exclusão e ressentimento tende à expansão, a partir das regiões periurbanas (aqui no Brasil chamadas, sem muita precisão, de áreas metropolitanas) para os países “periprósperos” da Europa,especialmente na parte sul do continente. De Sagres ao Pireu, há uma fermentação social que lembra o início da primavera árabe.
laura
Adoro esses posts sobre sociedade+politica.
Eduarda
Isso confirma o dito de que esse voto é o chamado “rancoroso”.