Na rive droite – a margem direita do Sena – entre a passarela Solférino e a ponte des Invalides, passando pela ponte Concorde e a ponte Alexandre III, no centro mais reputado de Paris e onde o metro quadrado atinge valores estratosféricos, estão ancorados 51 barcos/moradia.
Este perímetro se chama Port des Champs Élysées e atrai os olhares de todos os parisienses, sobretudo os olhares cobiçosos dos investidores.
Uma pancarte explica que o Porto dos Champs Élysées é uma marina que data de 1933. Com o desenvolvimento da navegação de grandes barcos para transporte de mercadoria e para passeios turísticos, canoas e pequenos barcos não puderam mais utilizar o porto incomodados pelas ondas provocadas pelo intenso trânsito fluvial. Aos poucos eles foram substituídos pelas grandes peniches transformadas em casas flutuantes.
Quando o tempo permite, andar pelas margens do Sena é meu passeio preferido. Não ando no nível do passeio e da circulação. Desço e caminho no nível do rio. Atravesso o jardim Tuileries, desço as escadas situadas em frente à passarela Solférino e que conduzem diretamente ao nível do Sena e viro à direita. Aí começa o Port des Champs Élysées.
Não conheço ninguém que more nestes barcos mas imagino que sejam todos alternativos ou do norte da Europa, grandes solitários ou casais sem filhos. Este estilo de vida não se adapta aos homens de terno e gravata, às mulheres de sapato Louboutin, nem à uma vida familiar com crianças, escolas, pediatras e tudo mais.
O lugar que moram é privilegiado, sem dúvida alguma, ao lado dos principais e mais bonitos monumentos da cidade. Para completar o quadro romântico aventureiro, à qualquer momento, basta ligar o motor e partir Sena acima ou Sena abaixo.
Ao mesmo tempo eles sofrem alguns incômodos que para mim – nada alternativa – anulam todas as qualidades. As marolas provocadas pelo movimento fluvial e a total falta de privacidade com a presença próxima de turistas, parisienses que passam e repassam o dia inteiro.
Os vejo como personagens que eu gostaria de ter sido um dia. Hoje, faço parte daqueles que os observam pelo buraco da fechadura.
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2 Comentários
Mauricio Christovão
Morar num barco já foi um sonho de juventude, mas eu teria um barco que se deslocasse, e não que ficasse ancorado para sempre. Morar numa peniche às margens do Sena tem as desvantagens dos barcos: balanço. umidade, desconforto… e não navegaria!!! Além da já mencionada falta de privacidade. Prefiro então uma casa ou apartamento
Nick
Em uma ocasião vi uma cena num desses barcos, que era digna de um filme. Eram umas 21:30h, mas como estávamos em maio, ainda não tinha anoitecido completamente. Um casal com 3 crianças se preparavam para jantar em uma mesa na parte de cima do barco. Enquanto a esposa colocava os pratos, o marido servia o vinho. Tudo iluminado por dois castiçais com velas e as telas dos tablets das crianças.