Por Evandro Barreto, autor do livro Na Mesa Cabe o Mundo, lançado pela Editora Conexão Paris.
Em Paris, as pessoas que vêm de fora param para ver a Torre e o Arco, as vitrines e os jardins, o rio e as pontes, as avenidas fervilhantes e as performances de rua, os museus e outras pessoas – muito diferentes delas próprias. Raramente se dão conta da outra cidade que se desdobra sob seus pés. Nos vários patamares desse mundo obscuro, sucedem-se fantasmagóricos ramais metroviários desativados, galerias de esgotos imortalizadas no “Fantasma da Ópera”, catacumbas do tempo do Império Romano, jazidas abandonadas de calcário, que abrigaram células da Resistência durante a ocupação nazista. Até os moradores da cidade pouco conhecem da geografia oculta, apesar de consumirem grande parte do tempo viajando debaixo da terra, apertando-se nos vagões e percorrendo os longos corredores das estações de conexão.
Mas mesmo o metrô nosso de cada dia pode ser, por si só, uma atração. Ali se multiplicam acontecimentos instigantes – de um concerto de Mozart, executado por músicos de alto nível, a discursos inflamados em defesa da fauna de Madagascar. Geralmente, os residentes passam batidos, pela premência dos horários e o torpor da rotina. No interior da composição, a paisagem humana. Muçulmanas, obrigadas por lei a desvendar o rosto, escondem o desconforto atrás de revistas. Jovens punguistas atentas às bolsas e policiais disfarçados atentos a elas. Executivos concentrados em i-phones, universitários estudando filosofia em pé. Um africano de meia-idade, com jeito de burocrata dos Correios, cochila sentado. Atenuadas pelos anos, as cicatrizes rituais que algumas etnias deixam nas faces dos recém-nascidos lembram suas raízes. Eu me pergunto se ele sonha com leões, como o pescador de Hemingway.
Naquela vizinhança que se renova a cada parada, e no entanto é sempre a mesma em sua indiferença, talvez só eu me sinta um espectador entre atores inconscientes. Quem já se acostumou a ver de tudo, não se encanta ou se surpreende com quase nada.
Por uma só vez, surpreendi parisienses se deterem numa boca de metrô. Um maltrapilho tocava seu realejo decrépito. Não havia periquito para tirar a boa sorte. Não havia boa sorte. Havia um som e um gestual de abismo. Havia um velho em seu abismo, girando a manivela do instrumento com o vigor e o desespero de quem se concentra em moer a vida para extrair dela o que possa restar. As moedas caíam em cascata no chapéu corroído, mas o velho, em transe, parecia não perceber. Eu me forcei a descer as escadas, perturbado pela força da cena.
O desconforto só se dissipou quando voltei à superfície na Estação Étoile. Uma grande lua e as árvores iluminadas à espera do natal me devolveram a lembrança de que a vida também pode nos chegar embrulhada para presente.
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15 Comentários
Mirella Cozzi
Bravo, Dodô!!!
HUGO CARVALHO
Belíssima Crônica!
Francy
Leio avidamente esta cronica ,e me vejo no metro em Paris .Tenho por hábito me fixar em expressões e gestos no cotidiano ,imaginem em viagens…Mas seu texto…Que venha outro livro Dodô ,suas cronicas são maravilhosas !!!
Adriana Pessoa
Lindo texto, Dodô!
Já estou aguardando o seu segundo livro de crônicas, pois o primeiro já foi devorado faz tempo!
Marcos A Felipe
Evandro, parabéns pela crônica!
Rogéria
B-E-L-Í-S-S-I-M-O texto!
Parabéns!
Madà
Dodo, uma viagem pelo metro não passa despercebida. Mesmo em tempo de tablet etc ainda se ve muita leitura em papel no metro, mesmo de pé. Vc cita o Velho e o Mar, mas seu realismo me fez ilustrar seu texto mentalmente com Hopper.
Nick
Andar de metrô em Paris, é uma experiência única…Adoro observar os tipos humanos, e em especial o parisiense médio, em sua rotina diária de ir e vir do trabalho.
Cristiane Pereira
Observar o cotidiano de uma cidade e seus habitantes é um dos exercícios mais interessantes numa viagem. Já transformar esse exercício numa crônica saborosa… é tarefa para poucos! Você nos conduziu ao seu lado, Dodô, como espectadores nessa viagem pelo metrô. Tenho certeza que quem ler esse texto vai observar o metrô de Paris com olhos diferentes numa próxima viagem! Bravo por mais esse impecável texto!
Tatyana Mabel
De como atravessamos uma cidade e somos por ela atravessados… lindo texto, como sempre, Dodô.