Por Mauricio Torres Assumpção, autor do livro A História do Brasil nas ruas de Paris.
Não se deixe enganar. O restaurante Le Boeuf sur le Toit (O Boi no Telhado) não é, apesar do nome, uma churrascaria rodízio em Paris. Não há garçons apressados, apontando-lhe espetos, pingando gordura na sua camisa. Longe disso. O quase centenário Boeuf é um dos restaurantes mais tradicionais da cidade, antigo reduto de artistas e berço do jazz na França. Nas décadas de 1920 e 1930, o restaurante entrou para a história recebendo a nata da intelectualidade artística, sob a liderança do poeta, dramaturgo e cineasta Jean Cocteau. Para o turista brasileiro, entretanto, o Boeuf tem um charme a mais – seu nome remete a um samba carioca de 1918!
Décadas antes da Bossa Nova, a música popular brasileira já encantava os franceses. Darius Milhaud, compositor modernista, foi o pioneiro dessa garimpagem musical no eldorado tupiniquim. Em 1917, Milhaud assumiu, a convite do escritor e diplomata Paul Claudel, o posto de secretário da missão diplomática francesa no Rio de Janeiro. Da diplomacia, porém, quase nada lhe deixou lembranças. O que impressionou o jovem compositor, que desembarcou em pleno carnaval carioca, foi a musicalidade brasileira, sobretudo os “tangos” de Ernesto Nazareth e Chiquinha Gonzaga. “Os ritmos dessa música intrigavam-me e fascinavam-me”, conta em suas memórias. “Havia na síncope uma imperceptível suspensão, uma respiração inconsciente, uma leve pausa que me era difícil compreender”.
Entre uma reunião e outra na missão diplomática, Milhaud foi à Lapa e comprou uma pilha de partituras de sambas e maxixes. Passou dias ao piano até conseguir entender a síncope fugidia que tanto lhe fascinava: “esse pequeno nada tão tipicamente brasileiro”, como ele a definiu. De volta a Paris em 1919, o compositor levou na mala não somente saudades, mas também todas aquelas partituras brasileiras, que mudariam o rumo da sua carreira. Depois de compor uma série para piano intitulada “Saudades do Brasil”, Milhaud voltou-se para as partituras com uma ideia genial – uma colagem! Inspirado pelos movimentos artísticos da época, como o dadaísmo e o cubismo, Milhaud compôs uma peça musical que citava, como num pot-pourri, 24 sambas e maxixes cariocas e paulistas. Emendou, numa só partitura, obras de Ernesto Nazareth e Chiquinha Gonzaga, entre outras de catorze compositores brasileiros. Satisfeito, batizou sua colagem de “Le Boeuf sur le Toit”, tradução do nome de um dos sambas citados, “O Boi no Telhado” de José Monteiro.
Com esse pot-pourri, o compositor pensava que poderia fazer a trilha sonora para um filme mudo de Charles Chaplin, acompanhado por piano nas salas de cinema. Jean Cocteau, seu confrade de boêmia num bar chamado La Gaya, discordou. Aquele pot-pourri, tão original, merecia um balé! Que apresentassem a música à Serguei Diaguilev, o poderoso diretor da Companhia de Balés Russos, que dominava a dança contemporânea em Paris. Diaguilev ouviu a peça, suspeitou da autoria do pot-pourri brasileiro, mas decidiu bancar o projeto. Entusiasmado, Jean Cocteau saiu em busca do elenco. Escândalo! Para aquela música tão estapafúrdia, Cocteau abriu mão de bailarinos profissionais, contratando artistas de circo. Em fevereiro de 1921, o balé “Le Boeuf sur le Toit” estreou no Theâtre des Champs-Élysées como farsa musical surrealista, conquistando o público e a crítica.
Quando, no final daquele ano, o bar La Gaya, um dos mais importantes pontos de encontro da geração de artistas liderada por Jean Cocteau, mudou de endereço, seus donos aproveitaram para mudar-lhe também o nome. O restaurante passava a se chamar Le Boeuf sur le Toit, em homenagem aos seus ilustres frequentadores. Entre eles, o pianista Jean Wiéner e grandes nomes da música popular e erudita, “dando canjas” noite adentro. No Boeuf, sobretudo, desenvolveu-se o jazz em Paris, criando-se a expressão “faire un Boeuf”, ou “fazer um Boi”, até hoje utilizada por músicos franceses ao planejarem uma noitada de jazz. Já o compositor do Boi, o carioca José Monteiro, também conhecido como Zé Boiadeiro, morreu no anonimato, com certeza, sem saber nada disso.
Agora que você conhece a história, só falta experimentar o Le Boeuf sur le Toit, com menu de três pratos a partir de 31,00 Euros por pessoa. E se você curte jazz, a temporada de música ao vivo vai de setembro a junho, nas noites de sexta-feira e sábado.
Le Boeuf sur le Toit: 34 rue du Colisée, 75008. Metrô: estação Saint-Philippe du Roule (linha 9); estação Miromesnil (linhas 9 e 13) ou estação Franklin Roosevelt (linhas 1 e 9). Telefone para reservas: +33 01 53 93 65 55.
Atenção: o restaurante estará fechado para férias de 26 de julho a 17 de agosto de 2015.
Leia também:
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Maurício Torres Assumpção é autor do livro A História do Brasil nas Ruas de Paris, que narra a vida de grandes personagens brasileiros em Paris, de D. Pedro I a Oscar Niemeyer, passando por D. Pedro II, Santos Dumont, os positivistas, Villa-Lobos e Lúcio Costa. À venda aqui, no site Minha Viagem Paris.
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3 Comentários
Tereza Gomes
Vejam que coincidência,
estamos indo em 28/09 para Paris e sempre procuramos lugares novos (para nós, claro…) para visitarmos e nos deparamos em uma revista aqui em Salvador, com o restaurante citado por vcs.
Com certeza iremos lá numa sexta…
Darei noticias!!!!!!!
Abraços,
Tereza.
Fabiano
Que delícia de blog! Fiquei com vontade de ir num dia de show ao vivo. Além da reserva tem que comprar ingresso?
Rodrigo Lavalle
Fabiano, não.
Abraços.