Nesse artigo, o escritor brasileiro Mauricio Torres Assumpção, autor do livro A História do Brasil nas ruas de Paris, nos conta sobre um dos muitos acidentes aéreos sofridos por Santos Dumont em Paris. No fim do artigo, um vídeo que fizemos com o Maurício sobre a vida de Santos Dumont em Paris.
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O(s) acidente(s) de Santos Dumont em Paris
Faz pouco mais de 120 anos que Alberto Santos Dumont conquistou de uma vez por todas o coração dos parisienses.
No dia 8 de agosto de 1901, o inventor brasileiro ganhou destaque em todos os jornais da França, sobretudo no “Le Petit Journal”, então o diário de maior circulação do mundo, com um milhão de exemplares.
A notícia, porém, tinha muito mais de drama do que de engenhosidade. Naquele dia, tentando contornar a Torre Eiffel, Santos Dumont escapou da morte depois de colidir o seu balão dirigível contra um prédio no bairro de Passy.
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Não era a primeira vez, nem seria a última. Desde que começara a desenvolver dirigíveis, Santos Dumont se envolveu em vários acidentes com maior ou menor gravidade.
Três semanas antes da queda em Passy, fizera uma aterrissagem forçada com o mesmo dirigível Número 5 nos jardins de uma mansão em Paris.
Enquanto estudava como resgatar o balão preso às árvores, recebeu dos empregados da propriedade uma cesta com algo para comer — um agrado enviado pela vizinha da mansão, a princesa Isabel. Assustada, Isabel havia testemunhado a queda do aparelho, que passara sobre o seu palacete, e queria ter notícias do valente conterrâneo de quem tanto se falava.
Uma semana depois daquele primeiro encontro, Santos Dumont recebeu uma medalhinha de São Bento, como presente da princesa:
“Ofereço-lha pensando na sua boa mãe, e pedindo a Deus que lhe socorra sempre e que lhe ajude a trabalhar pela glória de nossa Pátria”, dizia Isabel num bilhete, sempre muito beata.
Supersticioso, Santos Dumont pendurou a medalha numa pulseira fina de ouro, usando-a no pulso esquerdo. Nunca mais a tiraria do braço.
No dia 8 de agosto, no aeródromo de Saint-Cloud, ascendeu pela segunda vez em seu dirigível, sob os aplausos de 200 pessoas que se levantaram cedo para assistir a sua proeza.
Precisava alcançar a Torre Eiffel, contorná-la e voltar ao ponto de partida em 30 minutos. Eram as regras do prêmio de 100 mil francos oferecido pelo Aeroclube da França.
O dinheiro, porém, pouco lhe importava. Anos antes de construir o 14-Bis, Santos Dumont queria, obstinadamente, ser o primeiro homem a controlar um dirigível, navegando pelos ares como um navio pelos mares.
Ajudado pelo vento, cobriu os seis quilômetros do percurso de ida até a Torre Eiffel em apenas nove minutos. Contornou-a e, na volta, começaram os problemas.
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Inexplicavelmente, o balão começou a murchar com a perda de hidrogênio. Sem a rigidez do envelope, um cabo de sustentação afrouxou-se, sendo destruído pela hélice do dirigível.
Santos Dumont só tinha uma opção: a 200 metros de altura, desligou o motor, enterrou o chapéu na cabeça e se preparou para o que mais temia: empurrado pelo vento, o balão voltava para trás, entrando em rota de colisão com a Torre Eiffel.
Lá embaixo, a multidão, aos gritos, acompanhava aterrorizada a queda do aparelho. De repente, o balão se chocou contra a quina de um telhado, explodindo como um gigantesco saco de papel. A quilha despencou, mas, presa pelo balão, ficou pendurada num ângulo de 45 graus entre a parede do edifício e o telhado de um restaurante vizinho.
Salvo por São Bento, Santos Dumont permanecia amarrado ao cesto, imóvel, sem saber o que se romperia primeiro, os cabos ou a quilha, deixando-o cair de uma altura de 15 metros nos fundos do restaurante.
“Após uma espera que não me pareceu nada divertida”, lembra Santos Dumont em sua biografia, “chegou-me uma corda, lançada do telhado mais alto. Amarrei-me a ela, e fui içado. Constatei então que os meus salvadores eram os bravos bombeiros de Paris. Da sua estação de Passy haviam observado o meu voo; haviam visto minha queda e tinham acorrido. Após tirarem-me do embaraço, empregaram-se no salvamento do aparelho”.
De volta ao chão são e salvo, Santos Dumont foi recebido por milhares de pessoas que testemunharam sua coragem (e inacreditável sorte) no desastre. Beijou a medalha de São Bento, mostrando o pulso descoberto para a multidão.
Ajudado por uma barreira de policiais, conseguiu afastar os curiosos para verificar se o motor do dirigível fora danificado. Nada. Funcionava perfeitamente. Perdera somente o balão.
Mais tarde, pagaria, sem reclamar, 150 francos pelo conserto do telhado. Por hora, acendia um cigarro para se acalmar.
Perguntado por um repórter se ainda tentaria ganhar o prêmio oferecido pelo aeroclube, Santos Dumont não hesitou: começaria, imediatamente, a construção de um novo dirigível – o Número 6, que entraria para a história da aviação, fazendo de Santos Dumont o brasileiro mais famoso do mundo.
Vídeo: Santos Dumont em Paris
No nosso canal no YouTube temos uma série de vídeos baseada no livro A História do Brasil nas ruas de Paris, de Maurício Torres Assumpção. Clique aqui para acessar a playlist com todos os episódios da série e se inscrever no canal.
Assista abaixo o episódio sobre Santos Dumont em Paris, onde contamos não só a história acima como muitas outras.
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10 Comentários
Lui Carmim Mombach Weber
Sou um dos brasileiros que reconhecem o grande feito deste incansável inventor do mais pesado que o ar.Coleciono selos postais , cartões postais,envelopes e outros itens brasileiros e estrangeiros que reverenciam Alberto Santos Dumont com muito orgulho.
Má
Que história bacana saber um pouco mais sobre esse admirável homem Santos Dumont, e ver as fotos da época, sensacional! O detalhe da Medalhinha de São Bento não conhecia, que bom que o CP além de nos agraciar sobre Paris e a França, nos dá uma belezura de “aula de história” através desse texto, gostei imenso!
Bárbara
Como já disseram em outros comentários, não deixem de ler o livro de Maurício Torres Assumpção! É muito interessante, era difícil parar de ler!
Itajacy
Amei ter conhecimento destas particularidades e peripécias enfrentadas por este brasileiro estudioso, inventor, lutador e vencedor que foi Santos Dumont!
Luiz
Vcs podem até aguardar o próximo capítulo no Blog, mas não deixem de ler o livro. Uma obra prima do Maurício. Essa é a melhor história, mas tenho certeza que vcs vão adorar as de D. Pedro I e II. Fantastique!
Ligia
Vejam nesse programa a verdadeira gastronomia da Bourgogne e seus vinhos.https://www.youtube.com/watch?v=Qo8rw65wEs8
ALEXANDRE HASPEROY
MAGNIFICO FEITOS DE SANTOS DUMOND, SE FOSSE EM OUTRO PAIS SERIA MUITO MAIS APROVEITADO SEUS CONHECIMENTOS E GARANTO QUE HOJE O BRASIL JA TERIA SEUS PROPRIOS FOGUETES, NAO DEPENDENDO DE OUTROS PAISES.
Janaina
Santos Dumont foi um grande homem. Não sabia dessa história acerca da Princesa Isabel. Adorei esse post!
yara xavier
Que delícia de história.
Madá
Viajei! Que incrível essa história! Muito bom!