Por Karen Goldman, chef brasileira que criou os roteiros gastronômicos do Conexão Paris
Restaurante Lazare
Tenho uma teoria que um restaurante nunca é tão bom quanto no momento que ele abre suas portas. Está tudo novo, o dono e o chef estão lá todos dias, o staff é mais cuidadoso procurando cultivar os clientes, muitas visitas de jornalistas e críticos… enfim.
O Lazare não tinha nem um mês de idade quando, num domingo a tarde, fui lá testá-lo. Sabia que não poderia sair nada de ruim dali já que é um dos meus chefs favoritos que assina a cozinha. Mas a surpresa foi maior que eu esperava.
A única má noticia da refeição: fomos obrigada a pedir o “brunch” de domingo que tem um valor salgado de 38 euros por pessoa.
Mas o brunch do chef Frechon não tem salsicha nem panquecas… É entrada, prato e sobremesa.
Entrada
Pra começar foram enviados dois ovos mimosa (ovos recheados com maionese de atum ou caranguejo), escabeche de cavalinha com raiz forte, salada verde, pão e manteiga.
O ovo estava ok, a maionese cremosa bem equilibrada com atum, o molho bechamel quentinho, nada de especial mas misturou bem com a vinagrete cítrica da salada de alface. Já o peixe à escabeche com molho de raiz forte estava muito bom: uma bela cavalinha, grande e carnuda como elas devem ser (nunca compre uma cavala pequena), cozida inteira no vinho branco, acompanhada por gelatina de peixe e pequenas rodelas de cenoura. Muito saborosa, foi uma ótima entrada para acordar o paladar.
Prato principal
O prato: entrecôte de vitela com bacon, mini cebolas confitadas e cogumelos servido na panela de ferro. Esta vitela estava, atenção para o que eu vou falar agora, uma das melhores coisas que já comi na minha vida. Isso mesmo. A carne se desfazia na boca, a faca poderia ser dispensada pois apenas com uma colher poderia cortá-la em pedaços. O molho, era um demi-glacê (caldo de carne reduzido por mais de 12 horas) que foi feito com tanto carinho que parecia que minha vó estava dentro cozinha. Os cogumelos e as cebolas eram levemente adocicados para equilibrar o sabor salgado do molho que misturado ao creme de batatas (pois me recuso a chamar aquela untuosidade de purê) formava a garfada perfeita. Divino. Minhas sinceras parabenizações Monsieur Frechon.
Sobremesa
Depois, para refrescar o paladar, o chef nos enviou mini morangos silvestres com chantilly, uma pequena bola de sorbet de frutas vermelhas e um fio de torta de chocolate amargo enfeitada com avelãs caramelizadas. Até a torta de chocolate que quando vi pensei “Será?!” superou minhas expectativas: não muito doce, com a base crocante e no tamanho perfeito.
Eu disse que 38 euros era salgado para esta refeição? Reconsidero. Foi doce e prazeroso como o licor de amêndoas que pedi junto com a conta.
Restaurant Lazare: Gare Saint-Lazare, entrada pela passarela interior ou pelo centro comercial nível rua. Tel. 01 44 90 80 80 (vale ligar e fazer uma reserva). Aberto todos os dias até meia-noite. Metro Saint-Lazare linhas 3, 12,13 e 14. Clique aqui para reservar uma mesa.
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22 Comentários
tatyana mabel
Delicia de texto e de pratos. Adoro dicas com pratos que evocam nossa memoria afetiva familiar, especialmente qnd se esta fora de casa. Grata!
SimplyParis
The entry is good, the main course is really good and the desert is the great!
Suely
Ai que delícia!!!
Helena Bauerlein
O texto deu água na boca!
A refeição me pareceu perfeita e harmoniosa!
Quando for ao Lazare vou fazer o pedido tal qual o seu, Karen!
Me foi passada a ideia de confort food (quando vc evoca sua avó na cozinha) feita com ingredientes refinados!
Uma mistura perfeita para aguçar meu apetite!
Parabéns!
Bianca
Divino!
Sophia
Respeito toda a carne que só precisa de uma colher para ser saboreada.
Marcello Brito
Muito bom o texto Karen! e a resenha. O real preciso, certeiro, inclusive no preço, se infiltrando na nossa fantasia cotidiana.
Karen Goldman
Boa colocação Claudia Castro.
Na enorme maioria dos bons restaurantes de Paris é imprescindível fazer reserva, que podem ser feitas em francês ou inglês, pelo telefone ou a vivo, indo até o restaurante (muitas vezes até mais efetivo). Do Lazare o telefone está no texto.
Claudia Castro
Seria importante mencionar que a “fila de espera” para uma reserva, tratando-se de um turista comum, eh de aproximadamente 15 dias…
Estive la ha pouco tempo e, comidas a parte (sucesso entre qualidade vs. preço), fiquei decepcionada com o serviço das recepcionistas: completamente perdidas ao meio-dia e em plena dificuldade para driblar as duas portas de entrada do restaurante (porta da rua e entrada pela Gare), telefone tocando, e clientes chegando (a maioria sem reserva).
De qualquer forma, vale definitivamente a visita (com reserva feita)! Do contrario, o freguês eh obrigado a “mofar” na espera de um lugar disponível no balcão do bar, disputadissimo na hora do almoço.
MARILIA MAMEDE
Estava dando uma última espiadinha no CP , pois estarei viajando amanhã e me deparo com este post!
Que maravilha! Meu hotel é vizinho a Gare Saint-Lazare.Na volta, deixarei minhas impressões.