por Rodrigo Lavalle
Muito já se falou aqui no Conexão Paris sobre a mulher parisiense – seu estilo, sua elegância e sua magreza. Em contrapartida, pouco discutimos o homem parisiense.
Depois de muito ouvir minhas amigas conceituando e explicando os homens de seus respectivos quartiers, percebi que já tinha material suficiente para uma análise inicial.
Como, na maioria das vezes, o primeiro contato que travamos com um desconhecido é através da visão, o ponto de partida dessas categorizações foi sempre a roupa e a aparência geral dos indivíduos. O modo como a gente se veste e se apresenta ao mundo diz muito sobre nós e, queiramos ou não, somos inconscientemente julgados por eles.
A conclusão foi que grande parte dos jovens homens parisienses podem ser enquadrados em três tipos principais. Como toda generalização, essa também não é justa e nem 100% certeira. Existem aqueles que insistem em não se enquadrar nos estereótipos.
O Rimbaud Moderno
O primeiro tipo é o “Rimbaud Moderno”, apelido dado pela minha amiga L. Podemos considerá-lo o exemplar típico da rive droite – o lado direito do rio Sena.
Segundo L, “Todos esses moços se acham uns Rimbauds dos dias atuais. Eles ainda estão presos nesse ideal romântico do poeta/artista de alma torturada do século XIX. Ninguém faz esporte, ninguém tem aspecto saudável, todos fumam e bebem muito, viram a noite e vão trabalhar no dia seguinte. Com a mesma roupa, bien sûr!”.
Eles são magros, pálidos, cabelos cuidadosamente desarrumados, barbas descuidadas, vestidos de preto com roupas bem ajustadas ao corpo.
O Lenhador Urbano
Uma vez, depois de uma tarde às margens do Canal Saint-Martin, minha amiga R desabafou: “Às vezes eu olho em volta e acho que não estou em Paris e sim no Brooklyn ou em uma cidade no interior do Canadá. Esses caras se vestem de lenhador mas não sabem usar nem canivete!”
Aqui temos a emulação da emulação, ou seja, moços parisienses querendo se parecer com moços do Brooklyn que querem parecer lenhadores (ou algo do gênero). O visual é composto por: camisas xadrez, calças jeans escuras e com as barras dobradas, botas de solas grossas, barbas enormes e bem cuidadas e gorrinhos de lã.
Acompanhando o visual vem todo o estilo orgânico (bio, em francês) na comida, os hobbies em trabalhos manuais, a bicicleta e a adoração pelo café (que é o novo vinho nos quesitos safra, degustação e harmonização).
Sarkozystas
O exemplar típico da rive gauche – o lado esquerdo do rio Sena – foi apelidado pela minha amiga S de “Sarkozystas”. O apelido vem do sobrenome do ex-presidente francês de direita, Nicolas Sarkozy. Eles são os burgueses com pedigree e aspirações aristocráticas.
O uniforme se compõe de jeans claros ou calças caqui, camisas de manga comprida listradas de azul claro, blazer e sapatos de couro. São todos lindos, bem barbeados e penteados e com cara de bons moços. Mas não os chamem de “mauricinhos” ou de “coxinhas”! Nada a ver.
Às vezes eles jogam um pouco de tênis, mas bem pouco mesmo. Melhor só assistir.
Algo que esses 3 tipos têm em comum entre si e com a maioria dos parisienses é achar que academia não é atividade de gente muito inteligente.
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53 Comentários
Paula Regina
Caro Rodrigo Lavalle, adorei essa avaliação de leitura do homem parisiense; e concordo com a Bel Freire, tem um quê de Hipster na definição.
beijo grande e parabéns pela crônica.
Rodrigo Lavalle
Paula, muito obrigado!
Abraços.
Gabriela
Vania Wolf até eu suspirei na sugestão para a 4º categoria de parisienses agora….. Pour Dieu!!
Bateu uma saudade de Paris..
Dinah
Aimé votre texte, et tous sont de grands apéritifs!
Mauricio Christovão
Se morasse na França, usaria cachecol nos dias frios sem problemas. Achei alguns bem bonitos, mas resisti a comprá-los, por absoluta falta de utilidade aqui na França Antártica. Vi muitos franceses e francesas se exercitando, principalmente com bicicleta e corrida, mas vi também muita gente fumando loucamente…
Sophia
Madá e Rodrigo: tenho um amigo de São Paulo morando numa cidade próxima a Paris há uns três ou quatro anos. Ano passado estávamos na cidade na época do aniversário dele, era inverno e resolvemos que um bonito cachecol – com uma padronagem bem masculina, ressalto – seria um excelente presente. Bem, ele abriu o pacote e disse “Finalmente tenho um bom motivo para largar mão de ser besta e começar a usar um cachecol. Achava o acessório tão efeminado que não tinha coragem. Agora já estou acostumando.” Agora??? Ele precisou morar 3 anos no país para se acostumar com a ideia! Detalhe: não é que ele tem alguma profissão “bruta”, que não combinaria com nada mais, digamos, delicado – o sujeito é músico! Só rindo mesmo…
Juliana
O que mais gosto de ver nas ruas, tanto nos homens quanto nas mulheres que considero “estilosos”, é o cálculo cuidadoso para não parecer calculado demais. É o velho conhecido “je ne sais quoi”!
Tentei enquadrar os conhecidos habitantes de Paris não-nativos e percebi que um é o um perfeito Rimbaud moderno!
Mas vejo outros tipos também, talvez mais coloridos mas não tão excêntricos quanto o Lenhador, por exemplo.
Agora Rodrigo, será que dá pra fazer uma tipologia da mulher parisiense também?
Marcia Lube
O post me fez lembrar do diretor da Maison de France e meu professor no curso de Nancy : Mr Declerc.
Elegância em pessoa.
E que charme o lencinho no paletó do terno combinando com a gravata.
Regina Vasconcelos
Acho os franceses um charme, cabelos bem cortados,jeans (todos os tons), pulls, camisas, camisetas, blazers ou jaquetas e o eterno cachecol dando o toque final.
Bruno Pinheiro
Lenhador Urbano é seria um eufemismo para Hipster ?!? Seja em NYC, Londres ou Sampa, Hipsters Rocks!
jorge fortunato
Acho que ainda existem alguns tipos que não foram enquadrados…mas esses três do post faz fielmente o retrato desse parisiense do sec. XXI.
Madá
eu usava uma calça abóbora, mas nunca mais encontrei uma igual. Já usei calça vermelha nos tempos da Company.