Ele era inteligente e governou a França muito bem. Mas foi o rei mais sujo da história francesa. Para mascarar os odores ele tinha seus métodos.
Por Tom Pavesi
Nas visitas guiadas pelo Museu do Louvre e Palácio de Versalhes, os turistas sempre questionam sobre a vida e a higiene dos monarcas que ali viveram.
O famoso Rei Sol, Luis XIV – apesar de ter tido 16 amantes, 6 filhos legítimos, 16 filhos bastardos enobrecidos e mais de 30 filhos não reconhecidos, apesar da propaganda deixada nas pinturas oficiais de um monarca soberano, majestoso e de aparência limpa – foi uns dos reis mais sujos da história da França.
Ele teve inúmeras doenças: escarlatina e sarampo quando criança; blenorragia (gonorreia) e sarna quando adolescente; febre tifoide, fortes enxaquecas, dores no estômago, crise de gota e fístula anorretal quando adulto. Para completar o quadro, tinha todos os dentes inferiores estragados e um único dente superior.
Acredita-se que Luis XIV deva ter tomado de 2 a 5 banhos ”inteiros” durante os seus 77 anos de reinado (morreu em 1715, de gangrena nas pernas).
Luis XIV tinha vários métodos para mascarar os odores. Espalhar perfume pelo corpo e roupas – patchouli, almíscar, “fleur d’oranger” – e, para o mau hálito, pastilhas de anis. Ele praticava o famoso banho seco, ou seja, trocar de roupas várias vezes no dia. O monarca tinha conhecimento do mau cheiro que exalava, dificilmente suportável a todos que o acompanhavam. Ele mesmo abria as janelas para arejar quando entrava em uma sala.
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Voltando no tempo
Voltando no tempo, os romanos bem preocupados com a saúde e o bem-estar construíram as ”termas”, verdadeiros locais para banhos públicos e higiene pessoal. Em outras épocas, cidades medievais foram equipadas com latrinas e banheiros públicos.
Gradualmente estes hábitos desapareceram com a chegada de certas crenças e doenças. Acreditava-se que a sífilis e a perda do apetite sexual pudesse ser transmitida pelo banho. Com a peste, surgiu a teoria que o banho quente dilatava os poros e facilitava a “entrada dos vírus”. Por ordem médica, a sujeira acumulada na pele era recomendada a todos como meio de proteção contra qualquer doença. A água quente virou motivo de medo e de morte.
E a igreja deu a sua contribuição para o desaparecimento da higiene denunciando o banho como sendo imoral. A partir deste momento, o uso da água seria limitado às partes livres do corpo como as mãos e o rosto. Um banho de corpo inteiro passou a ser uma raridade.
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Voltando ao rei Luis XIV
Luis XIV lavava as mãos num pequeno filete d’água despejada de uma jarrinha por um cortesão. No rosto e no corpo, muito blush – pigmento branco à base de chumbo, altamente tóxico, sinônimo de beleza e saúde; na cabeça, uma mistura de talco e farinha para a peruca exageradamente alta e explicitamente gordurosa ao meio-dia para refletir magnitude e vigor. A peruca era de cabelos falsos misturados com cabelos verdadeiros e crinas de cavalos, local preferido dos piolhos.
Considerando a expectativa de vida no século XVII, Luis XIV morreu idoso, com 77 anos, deixando uma França próspera, rica e militarmente poderosa.
Deixou a imagem de um rei forte, robusto, detentor de um poder extraordinário para governar, uma personalidade inigualável, um rei guerreiro, um rei de paz, um arquiteto, um dançarino quase profissional, um mestre em jardinagem, um músico aplicado, amador de teatro, de poesia, mecenas das artes. Enfim, um rei brilhante como o Sol e Divino como Deus.
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102 Comentários
Luigi
Devemos agradecer aos indios nossas noções de higiene, pq se dependessemos dos portugueses e outros europeus ia ser um fedor só.
Tania Sciacco
Gostei muito do post, ainda bem que nossa cultura está mais pra banho do que perfume… E interessante pensar como este rei teve tantas amantes, ah o poder, o poder que embriaga, ou seria o cheiro mesmo?!
Lucia Cristina Chan
Olá Tom ótimo post!!
Não sei se está lembrado de mim da ultima viagem que guiou agora no mes passado dia 20/05 ( do grupo que ganhou a viagem para Paris), continuo acompanhando firme e forte o conexão Paris, continue postando mais e mais.
Abraços,
Beth Lima
Ótimo post, Tom.
Sabia da precária higiene dessa época mas não conhecia tantos detalhes.
Acrescentando ao assunto: os absorventes higiênicos femininos surgiram no início do século XX, durante as guerras mundiais, quando as enfermeiras criaram seus próprios absorventes com meteriais utilizados em curativos como gaze e bandagens (antes eram feitos com toalhinhas reutilizáveis).
Fernanda
Eca! Na minha ida a Paris verifiquei que alguns franceses ainda seguem os velhos hábitos do Rei Luis XIV.
Adriana Pessoa
“Um rei guerreiro, um rei de paz, um arquiteto.,etc etc, etc….”
imaginem isso tudo e ainda fosse bem cheiroso…
aí sim, um rei de contos de fadas!!
Muito bom post Tom!
Thais
Gente, até consegui imaginar o cheirinho de Luis XIV…eca!
Rosângela
Santo Deus! A “monarquia” já me dava arrepios antes…. ainda mais agora!
eymard
Muito bom, Tom. O banho entrou em declínio por toda a idade média e so voltou a se restabelecer no Sec. XIX. A escova de dentes, por exemplo, é da década de 50 do século passado. Até mesmo Napoleao, dizem, mandava recados para a mulher nao se banhar, pois estava voltando para casa…é muito interessante a história dos hábitos privados ao longo do tempo.
Alane
E deixou a imagem de um rei sujo como um porco!