La Samaritaine, a mítica loja de departamentos parisiense pertence, hoje, ao grupo LVMH Louis Vuitton Moët Hennessy.
Ela se encontra fechada há anos pois o prédio se tornou obsoleto diante das novas regras de segurança da Prefeitura de Paris. O projeto da Nova Samaritana é monumental. Ele inclui a restauração do belo prédio art déco com entrada principal pelo Sena, a destruição de velhos imóveis sem importância histórica com entrada pela rua Rivoli e a construção de novos prédios na área liberada.
No total, este projeto inclui uma loja de departamentos de 26.400 m2 com comércios e serviços, 96 apartamentos para pessoas de baixa renda, uma creche de 60 lugares, 20.000 m2 de escritórios e um hotel cinco estrelas da cadeia Cheval Blanc.
Este imenso projeto criaria uma nova imagem para o centro de Paris. O prédio Art Deco da Samaritaine restaurado e um hotel de luxo dariam às margens do Sena um brilho a mais.
O projeto foi autorizado pela Prefeitura e a demolição dos velhos prédios sem interesse foi levada a termo. Hoje, vemos a antiga Samaritaine fechada e um tapume ocultando o local da demolição.
Para a entrada Rivoli da Nova Samaritaine, os arquitetos escolhidos pela Vuitton imaginaram um prédio de arquitetura contemporânea revestido de vidro que refletiria as fachadas dos prédios da vizinhança. Lado Sena, art déco, lado Rivoli, contemporâneo. Um diálogo entre passado e presente.
O projeto, aceito pelos orgãos governamentais, foi barrado pelo proprietário de um apartamento nas redondezas e por duas associações. Uma chamada Proteção das Paisagens e da Estética da França e outra chamada SOS Paris.
Motivo: a destruição dos velhos imóveis foi um ato ilegal e a construção de um outro, de arquitetura contemporânea, criaria um contraste incômodo. Juntos, eles exigem a reconstrução idêntica dos feios prédios destruídos.
Li há algumas semanas, na revista Figaro Magazine, uma entrevista com Bernard Arnault, presidente da Vuitton. As suas respostas revelavam, nas entrelinhas, o seu desespero diante da rigidez da sociedade francesa. Revelavam também a sua tenacidade. Ele não abandona seu projeto e aguarda, o tempo que for, um interlocutor inteligente.
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14 Comentários
Camille B.
Lina, qualquer que pessoa que trabalhe nesse meio sabe que, hoje em dia, os investimentos e especulações em arte contemporânea são apenas fachada para lavagem de dinheiro et defiscalização ! Até parece que o interesse da população vem antes dos dele…
Aliás, a própria construção da fundação LVMH foi a maior maracutaia da arquitetura contemporânea já vivida por Paris… Seguem alguns extraits de um artigo que eu havia escrito em 2011 à respeito :
“Terça-feira, 15 de fevereiro de 2011, 22h30. Assembléia Nacional francesa. O impossível aconteceu : no mesmo dia, dois deputados de partidos opostos, Hervé Gaymard do partido de direita liberal (UMP Savoie) e Marcel Rogemont do partido de esquerda socialista (PS, Ille-et-Villaine) conseguem a proeza de colocar discretamente na pauta da casa, que discutia a liberdade na internet e coisas do gênero, duas emendas idênticas… Não poderia ser outro que a Louis Vuitton Foundation for Creation. As tais gêmeas que aliás, foram votadas e aprovadas em menos de três minutos, reconheciam a fundação como utilidade pública. Essa manobra política, curiosa por sinal, passa por cima do Tribunal Administrativo francês (TAF), que no dia 20 de janeiro de 2011, acabara de anular a autorização de construção do projeto. Pequeno problema : A construção já havia começado em 2008.
Recapitulando
Em outubro de 2006, nascia a Louis Vuitton Foundation for Creation (LVFFC), idealizada pelo PDG da LVMH, Bernard Arnault. Este último é ninguém menos que a personalidade mais rica da França, com uma fortuna estimada em mais de 22 bilhões de euros. A LVFFC era inicialmente prevista para ser entregue no final de 2009 / começo de 2010. Como estamos no começo de 2011 e até agora não vimos nem a sombra da tal nuvem, podemos chegar à conclusão que, mesmo com um mecenato desses, o empreendimento vem atravessando fortes emoções.
O X da questão é que o edifício está localizado no Jardin d’Acclimatation, Bois de Boulogne, e era um local insconstrutível. Era, porque para se tornar construtível, bastou modificar o PLU (Plan local d’urbanisme). E hop ! Dito e feito. Em 2006, o PLU era modificado para permitir a construção na parcela visada pelo projeto.Mas… como todo bom projeto francês, a LVFFC não poderia deixar de suscitar a indignação de uma parte dos parisienses. Assim, organizou-se uma associação de proteção ao Bois de Boulogne afim de impedir a construção. Em junho de 2010, a associação conseguiu que as modificações do PLU fossem anuladas. Em seguida, a autorização de construção do projeto, que não estava mais em adequação com o PLU, teve de ser anulada pelo TAF. (…)” Enfim, o final da história nós todos já sabemos : só existem políticos corruptos porque há quem os corrompa.
Neftalí
Espero que continuem proibindo esse prédio de vidros espelhados. O charme de Paris é justamente essa homogeneidade nas construções, com poucas exceções como a pirâmide do Louvre, a mesma Torre Eiffel e a infame Tour Montparnasse. La Defense existe justamente para esse tipo de edificios. Pessoalmente não gosto desse mistureba entre o antigo e o moderno. Londres não chega e nunca vai chegar aos pés de Paris, em quanto à beleza e charme, justamente por isso.
Cristiane Delgado
Traço um paralelo entre Paris e Brasília. Aqui a cidade está engessada, presa ao projeto arquitetônico de quase de 60 anos atrás, elaborado em cima de outra realidade, com conceito socialista, onde se acreditava que as pessoas trabalhariam e consumiriam somente ao redor de suas residências. Evidentemente as pessoas querem ser livres, circular por onde bem entenderem e a concepção original prejudica e dificulta a mobilidade urbana. Acredito que deve haver respeito histórico mas o progresso não pode ser desconsiderado. Entendo a cidade como um ser vivo que deve se adequar, na medida do possível, aos anseios de seus habitantes. Que a discussão sobre o projeto de Paris leve em conta todos esses aspectos.
Marcello Brito
Acho que não ficou claro no meu post, mas sou favorável ao projeto de renovação e reuso do Samaritaine. Uma cidade é um organismo vivo e precisa se reinventar. A historia ensina que quando uma metropole é fossilizada ela tende a desaparecer. A Paris que amamos nao é a Paris original, nem a medieval, nem a renascentista e muito menos a imperial. É a Paris do segundo império, de larga controvérsia estetica que legou ao mundo o ecletismo que apanha ate hoje na academia. Sua forma e traçado foi elaborado por um alemao que passou como um trator sobre a urbes fazendo da Paris existente terra arrasada.
Enfim, o que aponto é que deve haver sempre uma discussao com a sociedade mesmo que isso implique em atrasos.
Ane Picagli
Deixem os edifícios espelhados e envidrçados para o mau gosto de Miami. Paris não merece essa agreção. Mantenha tods as cracterística d em Ar Nouveu e Art deco do edifício. Não há necessidade de “modernismos” ou gosto duvidoso e necesside mais duvidosa ainda…Ms o que esperar de uma empresa (Luis Vuitton) ??????que tem gosto duvidoso e caiu nas graças de novos ricos
Maurício Christovão
Debate difícil…Será que Paris deverá ser engessada para sempre? A cidade que conhecemos hoje não é o burgo medieval, insalubre e cheio de vielas demolido pelo Barão Haussmann no Século XIX, com a abertura dos boulevards e a uniformização da altura dos prédios. Há que se preservar sempre, mas Paris(ou qualquer cidade) não é um cenário ou um museu a céu aberto, mas um lugar onde as pessoas vivem. Se nada pudesse ser mudado, não teríamos hoje a pirâmide do Louvre, que acabou se tornando uma das atrações da cidade. Lembro ainda que a Torre Eiffel teve críticos severos à época da sua construção e quase foi demolida algum tempo depois. Hoje Paris é impensável sem La Tour…
Não estou defendendo o projeto em questão, mas também não sou imobilista em relação ao aspecto da cidade
Camille B.
Espero que a sociedade francesa possa ter ela também um investidor inteligente.
Lina
Eu tenho profundo respeito por um investidor que construiu, em Paris, a Fondation Louis Vuitton e que legará o imóvel e todo o acervo deste fundação, em 2069, ao Estado Francês. Ele poderia ter escolhido vários outros países, mais fáceis, menos rígidos. Mas não o fez.
Aliás, a rigidez francesa e a impossibilidade de mudanças ou de reformas tem sido o assunto preferido de todos os analistas políticos sérios neste mês de setembro 2014.
Camille B.
A Société de protection des paysages et esthétique de la France (SPPEF), dirigida por Alexandre Gady, um dos mais conceituados historiadores da arquitetura (inclusive professor da Sorbonne e École de Chaillot) traz ao debate um parecer técnico e intelectual que fica acima de opiniões subjetivas do que, na opinião de pessoas menos especialistas pode ser ou não considerado “belo”. Lembrando ainda que a SPPEF é uma associação sem fins lucrativos e que por esse motivo combate apenas poucas operações (geralmente suspeitas) cujos trâmites burlam as leis urbanísticas e o código do patrimônio francês.
Ricardo
Não conheci os prédios demolidos, tampouco o projeto elaborado para a nova Samaritaine. Mas entendo que muito do valor de Paris está na manutenção de seu estilo e sua arquitetura, que em última análise remete à sua própria história. Acho que qualquer plano de “modernidade” deve ser muito bem discutido, para que Paris não vire apenas mais uma entre tantas cidades parecidas, nem repita a idéias de jerico como a da Tour de Montparnasse.
Marcello Brito
O projeto primeiro para a ocupação do Samaritaine era a criação num edificio histórico art deco do tão aguardado e sonhado Museu de arte aplicada para os movimentos Art Nouveau e Art Deco. Nao há no mundo de fato um museu relevante e de porte para esses dois movimentos artisticos da virada do sec 19 e alvorecer do 20.
A ideia nao vingou e evidentemente quando o conglomerado de luxo adquiriu o imovel o foco mudou. O projeto do grupo era a criaçao no espaço do Hotel Cheval Blanc de alto luxo e com diarias inatingiveis e que ja tem duas unidades, uma em Courchevel e outra nas Maldivas. Seria o primeiro hotel 5 estrelas de Paris com vista direta para o Sena.
Agora vejo que o projeto ampliou e muito.
Particularmente quando se mexe com memoria sou a favor de amplo debate embora nao seja saudosista, sempre acreditando na renovacao necessaria. Mas as eticas se transformam com o tempo.
Se fosse pelo poder publico o Marais nao existiria mais ja q o plano era derrubalo nos anos 60.
Enfim sou a favor do projeto mas discussao e debates mesmo q contrariosva nossas ideias acho necessarios