Foto: tempsreel.nouvelobs.com
Feministas da Femen com seios nus invadem a Notre Dame no dia da apresentação dos novos sinos da catedral. Objetivo: festejar o adeus de Benoît XVI e a nova lei que garante o casamento homossexual.
E então? E então um artigo do Huffington Post resume perfeitamente a situação.
A primeira reação é negativa. Porque feministas com seios de fora invadem uma catedral de um Estado laico? Se fosse um Estado onde o poder religioso se confunde com o político, uma manifestação no interior de um local de culto seria pertinente. Mas na França? Nunca. Puro desrespeito e provocação de mal gosto.
No dia seguinte a extrema direita condena o ato, a esquerda idem, o prefeito de Paris também. O diretor da catedral transforma a manifestação em caso de polícia com processo por ultraje à símbolos sagrados.
A Femen é um movimento que luta pela igualdade homem/mulher. Como tal ele é essencialmente antirreligioso, contra dogmas e superstições. Contra a milenar opressão das mulheres pelas instituições religiosas. Suas ações podem provocar e chocar.
Mas nós precisamos mais do que nunca dos irreverentes para equilibrar os fanáticos sejam eles muçulmanos, judeus ou católicos. Sem eles a laicidade não seria a justa medida. Sem esta invasão não estaríamos aqui tentando entender um ato, entender estas mulheres (corajosas), não estaríamos relembrando quando e como fomos oprimidas.
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64 Comentários
Madá
Gostei Marcello Brito! A reflexão procede.
Será que estaríamos falando sobre isso, não fosse a manif ?
Vou repetir também:
“Mas nós precisamos mais do que nunca dos irreverentes para equilibrar os fanáticos “
Mauricio Christovão
Marcelo Britto(pra variar…) mandou muito bem, apontando com precisão os bastidores da crise do Vaticano. Hoje tudo é marketing, e aposto que teremos em breve um papa mais jovem e mais carismático para tentar recuperar os rebanhos perdidos nos últimos tempos pela Igreja.
Tania Baiao
Marcello Brito: aplausos!!! Fico calada e pensativa diante da tua sabedoria…
Jane Curiosa
Marcello Brito
Na eterna disputa por mais dinheiro e mais poder a fé é só um detalhe.Bem grandão,por sinal.A variante é o “zeitgeist”predominante. E o ato em questão possui sua importância na medida em que suscita interrogações como as suas.Já foi assim no passado.Somos humanos,nada mais que humanos.
Elaine Braga
Cada vez mais abomino as religiões de um modo geral. Elas segregam e são altamente corruptas. Buscam dinheiro e poder político, especialmente as maiores. Entretanto acho de um tremendo mau gosto as manifestações desses grupos do Femen mundo afora. Não acho que isso resolva nada e não me sinto bem representada por essas moças. Não é esse o caminho. Chego a achá-las patéticas com os seios de fora; acabam erotizando ainda mais a figura feminina e deixando felizes alguns marmanjões bobocas. Não, não acho que seja uma boa representação da mulher como um todo.
marcello brito
Uma fotografia congela algo que é fugaz, transformando a realidade da cena.
Só para ingenuos e para os editorialistas de O Globo, o papa se retirou por motivo de doença e/ou idade avaçada.
Evidentemente a renuncia de Bento 16 foi um ato político dele, despido de fé teologica e revestido de vontade de poder, no equilibrio das forças, novamente políticas que disputam o legado de Pedro.
As condutas sociais sopradas pela igreja catolica hoje são, em meio a vida moderna altiva e independente que nos cerca, um anacronismo medieval inadmissível, descolado do mundo real. O que sobra é a bela estetica dos rituais e a arte maravilhosamente profana e libertina que cobrem as paredes de seus templos. nada mais.
Quando o papa, que agora se retira numa estrategia necessaria, prega, seja la porque dado teologico , o nao uso dos preservativos, o que ele faz é um ato de vandalismo moral incompativel com a etica moderna e certamente mais imoral, porque potencialmente mortal, do que seios despidos na notre dame. O que é mais grave, um protesto irreverente e sem maior importancia dentro de um lugar sacro, ou o discurso verdadeiramente profano que proclama o risco da escuridao e a negação do saber e da saude dentro desse mesmo espaço?
Lina
Marcello Brito
Obrigada!
Tatyana Mabel Nobre Barbosa
Jane,
Ponto para vc… e vou até reproduzir a frase que vc destacou do post, com bandeira na mão e peito de fora (rs… eita):
“Mas nós precisamos mais do que nunca dos irreverentes para equilibrar os fanáticos…”
Jane Curiosa
Tatyana…
Quando até o Sumo Pontífice desconfia da sacralidade da igreja católica…Imaginemos se ele se propusesse a escrever suas memórias…sem censuras!Mas a fé,ou o respeito a ela,essa necessidade muito humana jamais o permitirá.E é isso que, creio,tornou o ato das mulheres do Femen deslocado.Foi um ato desrespeitoso ao direito de milhares de pessoas que tem na fé seu regozijo de alma,seu conforto espiritual.Mas que sacudiu Madureira,ah,isso sacudiu!Assim,minha nota é onze para o CP, que com este post venceu o Carnaval sem ao menos haver estado em qualquer avenida.E que seu último parágrafo seja o refrão das muitas mudanças que se anunciam.
“Mas nós precisamos mais do que nunca dos irreverentes para equilibrar os fanáticos…”
Tatyana Mabel Nobre Barbosa
Muitas questões, diante desse episódio, se colocam: o uso do corpo da mulher; a maculação do espaço sagrado; a condição das mulheres. Cada tema desse já seria delicado, apesar da banalização do corpo, apesar da descrença na Igreja Católica; apesar das conquistas feministas. Logo, em princípio, o episódio não deveria nos assustar, nos revoltar,… e talvez até devesse passar desapercebido. Mas não passou! Talvez porque ainda não aceitamos/significamos o corpo (da mulher) sem santidades, talvez porque a Igreja Católica seja mais sacra do que imaginamos, talvez porque as mulheres nem sejam tão emancipadas quanto pensamos. Acho que o episódio deveria, pelo menos, nos levar a desconfiar sobre a sua suposta inutilidade.
Lenna Ranghetti
Protestos são necessários e bem vindos para a transformação do mundo.Mas, neste caso, houve muito mau gosto, necessidade de afirmação e desrespeito! Há que se ter limite para tudo…