Estou acompanhando na mídia francesa uma grande discussão sobre a poligamia. Um homem, de origem árabe e que possui várias esposas, corre o risco de perder a nacionalidade francesa. Ontem o jornal Le Post.fr , dentro da problemática da poligamia, indagou se o célebre chefe Paul Bocuse vai deixar de ser francês também.
Foi aí que fiquei sabendo que Bocuse, além das três estrelas, possui três pontes safenas e três mulheres. Que se ele calcular o tempo em que foi fiel à estas três mulheres chega a 135 anos de vida em comum.
Suas três mulheres sabem e concordam com este arranjo. Ele almoça com uma, toma o chá com outra, janta com a terceira. Vai para o Japão com a primeira, esquiar com a segunda e confia sua auto-biografia à última.
Elas se chamam Raymonde, Raymone e Patricia.
A primeira, Raymonde tinha apenas 16 anos quando eles se conheceram Estão casados desde 1946 e tiveram uma filha.
A segunda, Raymone, lhe deu um filho. O mesmo que dirige os negócios do grande chefe nos USA.
A última, Patrícia, desde 1971 cuida da empresa Produtos Paul Bocuse.
Eles são fortes, os franceses.
Descontos e presentes aos leitores do Conexão Paris
|
85 Comentários
Eymard
Juliana, escrevi sem te ler, mas dissemos praticamente a mesma coisa!!!
Eymard
Sueli,
uma coisa e outra coisa são a mesma coisa.
A questão da distribuição de direitos sociais, na europa, está diretamente ligada a todas essas questões de imigração; identidade cultural; ocidente x oriente; estado laico x religião…e os temas não são novos. As pautas é que vão aumentando.
Esses temas ora surgem pelo viés da identidade cultural; ora pelo viés da segurança nacional; ora pelo viés puramente econômico (por exemplo, o grave problema da ausência de postos de trabalho e a imigração).
Esse tema da poligamia está diretamente ligado ao problema de fundo na Europa. Portanto, a base das discussões é a mesma.
O que muda, claro, é o contexto, a abrangência, a importância de cada uma.
Só não o enxerga, quem não quer ver!
Juliana
Adooro estas pautas!
Leio o CP todos os dias. Participo pouco pelo pouco tempo.
Mas, vou concordar com o Eymard. Se se trata de cultura e costumes, e a poligamia não está entre eles, não está para ninguém. Nem para o Sr. Árabe, nem para o Sr. Bocuse.
Acho que cabe perfeitamente uma comparação com a lei ‘anti-burca’. Na verdade, pelo que me parece, tem mais coisas ai do que os jornais estão passando e o governo está dizendo.
Como uma feminista convicta, acho o uso da burca uma BARBARIDADE (e gaúcha), e tudo aquilo que já discutimos no post que a Lina colocou sobre este tema.
Mas, por favor, gente. Não temos mais fronteiras… Claro que cada país tem suas leis, etc., muito mais por interesses econômicos e políticos. Mas já passou o tempo de não admitirmos e respeitarmos a cultura do vizinho.
Se a lei ‘anti-burca’ estiver encabeçada pela segurança pública e a lei ‘anti-poligamia’ na economia do país, podem ser plausíveis.
Mas, esta repreensão anti-cultura do vizinho só p.q. você está no meu quintal não rola desta forma. Para tantos outros assuntos um coloca ‘pitaco’ no pátio do outro, coloca dinheiro, coloca influência política… um pouco hipócrita isto agora.
Pelo que parece o governo não quer financiar os filhos dos outros e coloca a culpa na cultura. Não quero dizer que isto deva ser feito, mas parece uma tentativa desesperada de barrar o choque cultural ou a imigração, pois o governo financia outras famílias também com 5 ou 6 filhos… só que da mesma mulher. Faz diferença?
Sueli OVB
“Mas ate onde eu li – e entendi – eles querem tirar a nacionalidade fancesa do homem árabe porque ele tem vivido somente dos benefícios do governo por conta do n. de filhos”. Palavras da participante do debate KLADINA.
E a questão é SÓ e UNICAMENTE essa aí. O governo francês não estaria nem um pouco preocupado em tirar a cidadania desse árabe, se ele não fosse um dependente financeiro e vivesse unicamente do seu serviço, cumprindo com os seus deveres com o governo francês. Mas, pelo que parece, o cidadão só está usufruindo dos seus direitos, junto ao governo do país que escolheu para viver.
Tá doendo no bolso do estado francês, que não emprega as mesmas leis dos países árabes. Por quê sustentar esse cidadão, em estado francês, com suas mulheres e diversos filhos, se as leis do país não peveem tal comportamento, nem o reconhecem?
O Paul Bocuse não é um dependente do estado francês, muito pelo contrário, eleva o nome do país e garante gordos impostos ao governo.
Acho que a linha de pensamento da Helena foi essa e eu volto a repetir: Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
Rinaldo Garcia
Concordo com o Eymard, penso que há uma semelhança entre as duas situações, resguardadas as suas diferenças contextualizadas. É difícil saber o que está realmente por trás dessas questões.
Eymard
Helena, enquanto estava postando voce voltou.
Vou ser mais direto.
Nós não enxergamos assim porque não estamos no contexto da Europa. História é contexto.
Para nós essa discussão parece muito estranha. Muito esquisita. Nós não vivemos esse dilema europeu da imigração; do choque de culturas que mistura religião e estado. Por isso a nossa dificuldade em “entender” o fundo da questão que se coloca na superfície das tigelas do Paul.
Eymard
Helena e Sueli,
eu não estou fazendo comparação (e se há comparações não sou eu quem as faz). Aparentemente seria uma “comparação” sem sentido. Estou dizendo que a discussão da “poligamia” (cuidado com esse termo) do Bocuse está inserida no mesmo contexto da discussão sobre a proibição do uso de véus e burcas. É no contexto do choque de culturas. É no contexto, como disse a Claudia Oitica, da discussão que envolve “identidade cultural francesa”.
O problema dessas “proibições” é que elas começam assim. A gente achando que não tem nada a ver uma coisa com outra (o véu com a poligamia). Mas….eu costumo ilustrar com a figura de uma pirâmide ou de um edifício. Você começa a subir os andares da discussão. E tentar encontrar um princípio comum entre eles. É assim que o mundo jurídico se constroi.
Qual o princípio comum que rege as duas decisões?
Na França é perfeitamente legal ter mais de uma familia . O que se proibe é ter varios casamentos legais ao mesmo tempo. No entanto, manter várias familias é plenamente legal.
O contexto da discussão, me permitam apimentar (para ficar na figura gastronomica) é a questão do choque cultural. Não da bigamia ou da poligamia, propriamente.
A declaração do Bocuse de que tinha 3 familias (portanto, não se trata de poligamia no sentido legal), sob o mesmo teto, e com filhos distintos, é de 2006.
A polêmica, como disse, se renova pelo contexto em que ela se dá.
Posso estar errado na contextualização da discussão. Mas, pelo que tenho lido e acompanhado, o contexto é exatamente esse que estou apresentando para o “debate”. Ou será que fui longe demais? Será que viajei demais?
Helena Vasconcellos
Cláudia Oiticica,
Acho que, justamente, o ponto é este. No caso do Bocuse, tudo se passa em sua vida privada, até porque, como você disse, na França, e não só na França, “no papel” não pode. E na vida privada todos têm direito às suas escolhas. Não me surpreendi tanto assim com a aceitação das partes interessadas, achei mesmo que tem um “quezinho” francês. Afinal, não está tão longe o tempo e o casamento de Beauvoir e Sartre. É dito e sabido a peculiaridade daquele relacionamento.
Não concordo que sejam dois pesos e duasa medidas.Como diz a Sueli OVB, uma coisa é uma coisa, e outra coisa…
Também não vejo isso como uma ameaça à identidade cultural francesa.
carla
Helena com bom senso distinguiu duas situações que a meu ver são efetivamente diferentes.
Cláudia Oiticica
Primeiro, estou surpresa com essa estória do Bocuse e a aceitação das partes interessadas. Mas, apesar de ser de conhecimento público, é um fato que oficialmente não é aceito. Ele ou qualquer um outro poderia ter até mais mulheres, mas “no papel” é impossível ,na França. E com a vida privada, ninguém está nem aí.
Mas, dois pesos, duas medidas. O caso do muçulmano que está prestes a perder a nacionalidade, envolve a identidade cultural francesa que está se sentindo ameaçada e por isso adota medidas arbitrárias.
Já tive amigos muçulmanos e essa era uma discussão constante. Segundo eles, os homens terem várias mulheres, era imprescindível para a felicidade destas. Diziam que muitos homens morriam nas guerras, causando um déficit masculino muito grande, então, essa era uma maneira de resolver esse problema de “escassez” e no final, todos saíam ganhando. Pode???