Visitei o novo Departamento de Artes do Islã do museu do Louvre. Quando os primeiros artigos sobre o projeto foram publicados, fiquei fascinada pelas fotos da maquete do arquiteto francês Rudy Cicciotti e sua proposta de tapete voador. Esperei com impaciência o final das obras e a inauguração do departamento.
Vivi uma experiência que muitos já viveram. Quando vamos ao encontro do novo e do desconhecido, se não ficarmos alertas, chegamos com nossa própria idéia da realidade a ser descoberta. Um dos grandes riscos que corremos, nós, viajantes, é partir para conferir se o país visitado corresponde realmente à idéia prontinha que temos dele.
Foi exatamente o que aconteceu comigo. Corri para ver, não o projeto real, mas o tapete mágico que criei durante meses através de leituras e fotos.
Por isso que o filósofo Michel Onfray, no seu delicioso livro Théorie du voyage – Poétique de la géographie – afirma que para um conhecimento real temos que fabricar uma inocência, no sentido que temos que apagar todo o conhecimento anterior e abordar o novo com a alma de uma criança.
E diante do tapete real tive que me desfazer das minhas imagens fantasiosas para poder apreciar este projeto extraordinário.
O departamento de Arte do Islã se encontra no andar -1, Mezanino, cor verde. Clique aqui para ver o mapa do Louvre em português.
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24 Comentários
Lenna Ranghetti
Jane Curiosa, genial a dança de Pan no Louvre! Minha imaginação viajou e vi lá naquele espaço, quando a noite chega e tudo se aquieta, Monalisa batendo papo com a Vitória de Samotrácia, as múmias e estátuas do Egito fazendo um baile de máscaras ao som de um minueto, o Escriba fazendo um vôo rasante no tapete voador, enfim, uma vida além da matéria com que são feitas estas obras de arte, admiradas através dos tempos e pela humanidade …
Jane Curiosa
E para quem pensa que o Louvre é uma pasmaceira à noite após o fechamento:
http://www.youtube.com/watch?v=OPSQ46AvrOE
Divirtam-se!
Jane Curiosa
Tenho uma certa resistência a Onfray. talvez isso se deva ao fato de ele ter ele apoiado José Bové para a presidência da França.Estou tentando acabar de ler seu Tratado de Ateologia,mas tenho sentido dificuldade de acompanhar o raciocínio do autor.Bem,deixa pra lá,essa é uma outra conversa.
Fiquei encantada com o post “Tapete Voador” e, de vez que não posso admirá-lo ao vivo,fui em busca de mais imagens.Divido o que encontrei com vocês,eu me apaixonei:
http://www.cristinamello.com.br/?p=6820
Lina
Jane Curiosa
Obrigada pelo artigo da Cristina Mello. Excelente.
Jacqueline
Isso me aconteceu muitas vezes com livros, filmes, viagens. A imaginação e os comentários montavam uma expectativa que não correspondia ao que realmente era e causava frustração. Era necessário um distanciamento para assimilar e voltar em condições de apreciar. Tal não ocorreu com Paris. Apesar de ter passado uma vida montando em minha mente todos os detalhes da cidade, ela conseguiu superar todos os sonhos. Deve ser o que ata a maioria das pessoas que a vêem e por ela se apaixonam para o resto dos dias.
Mauricio
Qdo estivemos lá ainda estava em obra, só vimos cartazes e a maquete, mas um motivo para visitarmo paris de novo.
marcello brito
Estive no espaço e embora em fotografia possa parecer pesado, na realidade é o oposto, o telhado é bastante leve e muito bonito: um rendilhado metálico que filtra a luz natural e nos remete aos motivos geométricos e muxarabis da cultura islã. É tb discreto, nao é uma arquitetura impositiva ou espetaculosa que brigue com o acervo.
O espaço interno é livre sem um percurso claro a seguir e os acessos de entrada e saída poderiam ser mais bem sinalizados.
O acervo, bastante discreto, é bom, com belas e importantes peças.
Laura
Adorei a exposição!!!!
Sil
Nossa, minha vontade é largar tudo e correr pra ver! Tanto o projeto ousado (será que vai repetir as polêmicas do tempo da pirâmide do Pei?), quanto pelo que tem dentro. Nesse mundo estranho em que vivemos, acho bacana o Louvre enfatizar a arte do Islã em uma roupagem moderna e original. Afinal, precisamos também recuperar uma certa inocência em relação a essa cultura fascinante.
Gostei muito da idéia do filósofo Onfray, que não conhecia. Sempre que viajo lembro do Lévi-Strauss chegando ao Brasil. Ele se deu conta de que viajar implica cinco deslocamentos: as três dimensões do espaço, o tempo e o lugar social.
Maria das Graças
Uau! Eu também acompanhei esse projeto e criei muitas imagens desse teto. As fotos dão a impressão de um teto pesado contrário às minhas fantasias. Eu imaginava algo que flutuasse ao sabor do vento.