Uma coisa que sempre me chamou a atenção nos parquinhos e jardins de Paris é como os pais franceses incentivam a autonomia de seus filhos. Enquanto nós, brasileiros, logo nos descabelamos e berramos VOCÊ VAI CAIR! quando nossas crianças querem se aventurar sozinhas no andar mais alto do brinquedo, os pais franceses calmamente se aproximam de seus filhos e dizem: Muito bem, você vai conseguir, pode ir sozinho, estarei aqui embaixo para ajudar você caso tenha alguma dificuldade.
Comprei o best seller Crianças Francesas Não Fazem Manha porque algumas pessoas à minha volta elogiaram o livro, mas confesso que estava esperando um manual bobo de como educar os filhos. Pois bem, eu estava completamente enganada. O livro, da jornalista americana Pamela Druckerman, é um incrível raio X das culturas francesa e americana. Além de muita leitura e entrevistas com especialistas, a pesquisa da autora inclui anos de observação do comportamento dos pais franceses em parquinhos e praças parisienses, ponto de encontro dos pais e crianças que vivem em Paris.
A partir da comparação do comportamento dos pais americanos e franceses, o livro vai aos poucos revelando aspectos da cultura de cada país:
- Enquanto os bebês e as crianças americanas comem biscoitos e outras bobagens o dia todo, os francesinhos comem apenas nos horários determinados.
- Enquanto os pais americanos proíbem doces e outros açucares durante pelo menos o primeiro ano de vida de seus bebês, o franceses tratam todos os tipos de alimentos de forma natural e não tentam fingir que balas e chocolates não existem.
- Enquanto os pequenos franceses são incentivados pelos pais e pela escola e apurar o paladar, comendo foie gras e camembert desde bebês, os americanos ficam restritos a papinhas e purês durantes anos a fio.
- Enquanto as americanas acham que engordar 20 quilos durante a gravidez é razoável, as francesas têm como limite 14 quilos.
- Enquanto as francesas tentam estar em forma após três meses do parto, as americanas não se importam muito com isso.
- Enquanto NÃO é palavra-chave na educação das crianças francesas, os americanos têm medo que o excesso de NÃOS possa podar a criatividade de seus pequenos.
- Enquanto os pais franceses acham que a criança não pode ser o centro da atenção do casal, se permitindo saídas e viagens a dois e momentos cotidianos sem a presença da criança, os americanos passam anos vivendo a vida de casal em família.
À medida que eu avançava na leitura, ficava claro para mim que nós, brasileiras, estamos no meio do caminho entre as culturas francesa e americana. Lidamos mal com a culpa assim como as americanas, somos mães intuitivas assim como as francesas, temos dificuldade em estabelecer limites para as crianças assim como as americanas (mas em menor grau), cuidamos dos nossos corpos durante e depois da gravidez assim como as francesas… Pelo menos essa foi a minha percepção.
Recomendo a leitura do livro tanto para mães e pais quanto para qualquer pessoa que queira entender um pouco mais sobre as entranhas das culturas francesa e americana. E refletir um pouco sobre quem nós somos.
Crianças francesas não fazem manha
De Pamela Druckerman
Editora Fontanar
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65 Comentários
Esther Mikaelson
quem não concorda com a palmada ?
Kow
A maior questão a enfrentar no Brasil é a falta de limites para criancas e adolescentes. Os próprios pais nao tiveram limites impostos, ficando dificíl fazer isto com seus filhos. Vira uma bola de neve. Aqui ou voce é um paizão/mãezona ou é tirano.
Leila
Tenho 2 filhos com menos de 3 anos ambos. Estou lendo o livro e sei muito bem o que é ficar anos sem dormir, frustrada com a maternidadee até mesmo deprimida com tamanha dificuldade. Antes deste li o livro “Domando sua ferinha”, com o qual aprendi a fazer meu filho de 1 ano a dormir. Desde então estou aberta a conhecer, ler e interpretar várias formas de educar. Sempre viajei e agora observo ainda mais aspectos de diferentes culturas. Estou gostando da leitura do livro. Vale ressaltar que a autora descreve os hábitos da classe média francesa. Se compararmos nesta ótica a nossa classe média está mais para o estilo americano permissivo, arrogante e tirano. Eu particularmente estive na França por algum tempo e a descrição do livro condiz com os hábitos do lar que fiquei. Ouvi muitas mães aqui dizerem que educam com ”amor”, ”carinho”, compreensão e blá, blá, blá. Eu interpreto isso como : ” Estou perdida, este papo de regras é muito chato e vou deixar rolar…”. O relato do professor aqui já diz tudo sobre o resultado final deste tipo de criação. Para educar, ensinar é preciso aprender como. Leitura, reflexão e intuição são ótimos caminhos. Os livros não vão dar a fórmula mas um caminho. Estou 3/4 à moda francesa 1/4 americana.
Glauco Lucena
É pessoal, de fato não sei quem está correto, qual o modelo de criação adotar – inclusive a pediatra Anna creio não ser mãe ainda ou está trabalhando demais e por falta de paciência quer ver o filho(a) dormir logo pra não dar trabalho – mas penso que rigidez excessiva cria-se uma certa frieza pelo medo que se impõe, o que distancia a noção de amor das crianças pelos pais . Pais workaholics tendem a não ter paciência com seus filhos ao chegarem em casa, justamente pelo cansaço, e como o dinheiro e o sucesso profissional é a coisa mais importante na vida em seu contexto, um presentinho quase diário é o amor contemporâneo que alivia a consciência. Tive uma criação exemplar, minha mãe como poucas largou o emprego estável de professora para cuidar de três filhos, não lembro de ter comida congelada uma vez sequer na mesa se casa, ela sabia onde eu estava e com quem quando descia para brincar com os amigos até a minha adolescência. E hoje ? Há, o lado profissional não deixa . Bem, não vou entrar no mérito, cada um com seus problemas e consciências, mas depois que cresce não dá mais tempo, esse precioso tempo deve ser conseguido a qualquer custo e com antecedência, sob a condição de não se criar adolescentes tiranos, sem limites, que xingam os pais e estes sorriem, inaceitável, e nesse caso a mães francesas estão corretíssimas em sua rigidez . O meu filho tento cuidar com o maior amor do mundo, sendo duro as vezes o colocando de castigo por alguns minutos para que se mostre que fez algo errado -tem 3 anos – o que é perfeito o resultado, entende o erro e não comete novamente. Me desdobro no trabalho mas levo e busco na escola todos os dias, converso muito, aos finais de semana procuro criar um ambiente familiar o mais próximo possível, esqueci de vez a cerveja com os amigos aos sábados, passei pra quinta à noite pela família e tento arrumar tempo pra ele justamente porque este tempo não tem volta. Percebo uma rigidez desnecessária nos relatos quanto à criação dos filhos na França, não consigo imaginar tamanho distanciamento e frieza com os recém nascidos, mas vejo o lado positivo em dizer não como fazem em certas atitudes. Enfim, criar filho é fácil, com a sogra, babá, escola, difícil é você criar com amor, paciência e tempo e impor limites quando necessário, isto sim é criar filhos educados independente de qualquer nação.
Sandra Martins da Rosa
Não sei se a nossa educação é como a francesa ou a americana ou ainda um mix, o fato é que as nossas crianças estão se transformando em pequenos tiranos e quem vai sofrer mais tarde serão seus pais, que têm medo de dizer não, por acharem que isto poderá lhes causar algum trauma. Educar não é fácil, mas temos que pensar que ao educar nossos filhos estamos dando-lhes o nosso melhor, com amor e limites. Eles certamente não gostarão de muitas coisas, assim como nós, mas a vida não é só um mar de rosas; nós também lidamos com frustrações e nem por isso nos tornamos pessoas intolerantes.
Samia Loraschi
Queridos, educar com amor… alguém sabe como “definir” melhor esse termo? Educar com amor não é somente viver com um bebê no colo, sem sequer olhar para ele enquanto o amamente. Educar com amor não é comprar tudo o que uma criança pede, sem ensiná-la sobre necessidade e desperdício. Educar com amor não é colocá-la nos melhores colégios e atividades extra classe sem ao menos perguntar quais seus interesses. Educar com amor não é deixá-la fazer birra e achar lindo ela se jogar no chão do supermercado quando recebe um “não”. Educar com amor não é deixá-la dizer: “Cala a boca, mamãe! Como você é burra!”, e ainda sorrir depois de ouvir isso. Educar com amor é diferente de dizer “sim” para tudo. Educar com amor vai além da permissividade e omissão com a qual muitas de nossas crianças são criadas hoje. Se não existe um modelo de “como fazer”, podemos ver diariamente vários modelos de “como NÃO fazer” em cada esquina. Educar com amor, dizem muitos especialistas, é mostrar a realidade, incentivar a autonomia, o auto cuidado, a empatia, o respeito e estabelecer limites.
Claudia
Educar dá trabalho, sim, mas, se não educar, o trabalho será muito maior!!!!…rs….
Jane Curiosa
Pela ordem! hehehe
Marcia, Francy, Eymard, Adriana…!
Que bom “vê-los.” Talvez vocês nem imaginem o quanto.
Quando falo na relação pais e filhos,-tema,aliás do Teleton no Brasil este ano,sempre lembro do personagem Rango,criado por Edgar Vasques.
Considero um insight genial do chargista a resposta do pai ao filho quando este lhe pergunta qual é o problema do menor abandonado. Rango responde que o problema do menor abandonado é o maior abandonado. E é assim mesmo. Alguns adultos às vezes não entendem o quanto são os responsáveis afetivos pelas crianças. E não sabem que eles mesmos foram,em sua infância abandonados afetivos por seus pais que não sabiam…
Mas na tirinha não era disso que Vasques tratava,ao menos de forma consciente,não.
Coisas…
Abraços carinhosos.