Caminhar, flanar, manifestar são atividades que definem bem a maneira de ser francesa.
Acabei de ler uma excelente entrevista sobre uma atividade humana prazerosa, essencial e simples: caminhar.
Já que os europeus e especialmente os franceses adoram caminhar; que Paris é conhecida como a cidade ideal para flanar; que Paris é mundialmente conhecida como a capital das manifestações, resumimos aqui os pensamentos do historiador – e grande caminhante – francês Antoine de Baecque.
Comparada ao alpinismo, caminhar é um tema de pesquisa relativamente recente para a História e a Sociologia. Sem dúvida alguma porque caminhar é uma atividade modesta, sem grandes datas e heróis.
Caminhar é democrático, qualquer pessoa exerce esta atividade. Caminhar é igualitário. Os caminhantes se cruzam nas montanhas sem diferenciações sociais. Todos juntos e todos iguais no mesmo caminho.
Caminhar como peregrinação, caminhar como manifestação política, caminhar como prazer e diversão. Caminhar adquire várias conotações.
E caminhar na cidade, o famoso flanar?
O flaneur apareceu nos meados do século 19. Flanar é observar, captar as mudanças da cidade. Paris ficou conhecida graças aos flaneurs que percorriam suas passagens, suas ruas observando os detalhes urbanos, os passantes, os monumentos e as curiosidades.
O caminhante na cidade inventou o cinema: ele é o primeiro travelling da história.
Caminhar, flanar, manifestar. Patrick Batard no Flickr
E o caminhar como manifestação política?
Caminhar é um modo de reivindicação não violenta. Caminhar é uma forma de resistência e de denúncia. Aquele que manifesta caminhando é frágil, pacífico e exposto ao poder da repressão e da brutalidade injusta.
Por isso caminhar se tornou um modo de protesto e de revindicação histórica que amedronta os governos. Ele revela o poder da repressão dos mais frágeis.
Inúmeros são os exemplos históricos da caminhada como maneira eficaz de barrar o poder. O historiador cita Gandi contra o colonialismo, os negros americanos pelos direitos cívicos, os Sioux do Dakota contra o oleoduto.
Caminhar, flanar, manifestar. Thien no Flickr
E qual a virtude de caminhar?
Caminhar é um maneira de se conhecer. Caminhando o homem alcança seu “eu” físico e moral pelo mecanismo mesmo da caminhada, como um fenômeno de hipnose. Caminhar cria a resistência moral e física para o passo após passo infinitamente recomeçado; resistência ao cansaço e aos sofrimentos como uma droga euforizante. Ao mesmo tempo, caminhar nos permite uma comunicação imediata com o ambiente. O caminhante está aberto à tudo aqui que ele cruza: flores, paisagens, encontros…
Antoine de Baecque publicou Traversée des Alpes, essai d’histoire marchée (Gallimard, 2015), Ecrivains randonneurs (Omnibus, 2014) e Histoire de la Marche (Perrin, 2016).
O texto acima é um resumo de artigo publicado no jornal Libération por Catherine Calvet. Clique aqui.
Nós do Conexão Paris aprendemos a caminhar aqui na Europa. Caminhar durante horas, caminhar o dia todo, caminhar 20 km por dia, caminhar nas montanhas, nas florestas. E sobretudo caminhar nas cidades. É assim que as conhecemos, passo após passo, olhar afiado e coração aberto.
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2 Comentários
Edmilson Siqueira
Li O Flâneur, de Edmundo White. A propaganda do livro diz tudo: “O escritor americano Edmund White, que morou dezesseis anos em Paris, flana pela cidade e vai a lugares praticamente desconhecidos dos visitantes (e mesmo da maioria dos parisienses). White mostra a arquitetura íntima dessa cidade que, talvez como nenhuma outra, desperta todo tipo de fantasias de felicidade.”