A escritora Eneida Quadros Queiroz foi a um dos bailes de época promovidos pelo Museu d’Orsay e nos conta sua experiência “viagem no tempo”.

Por Eneida Quadros Queiroz do blog Da Bélgica – viajando e escrevendo

ONDE FICAR EM PARIS – DICAS DOS MELHORES BAIRROS E HOTÉIS

 

Museu d’Orsay: exposição, palestras, filmes e bailes

Sou historiadora, moro em Bruxelas e tenho paixão tanto pelo século XIX quanto por Paris. Imaginem minha alegria ao ver um post do Conexão Paris sobre uma nova exposição temporária no Museu d’Orsay cujo tema era o Segundo Império francês (1852 e 1870).

A exposição chama-se “Spetaculaire Second Empire”, pois ostentação é o que define a imagem pública do governo francês de Napoleão III (sobrinho do famoso Napoleão Bonaparte). Um período descrito como “eufórico”, “brilhante”, “a festa imperial”.

bailes no museu orsay

Eneida e seu vestido de época, ao fundo o Museu do Louvre

O Museu d’Orsay não costuma esgotar seus temas apenas na organização das exposições temporárias, ele promove eventos paralelos relacionados ao assunto, e isso é fantástico: são palestras sobre o Segundo Império, espetáculos de música, apresentação de filmes (40 eventos ao todo) e – por que não – um baile?!

Sim, um baile de época! Era isso que o Conexão Paris estava anunciado num post que fez meus olhos brilharem. Os vestidos rodados, com amplas crinolinas a encher as saias, espartilhos afinando cinturas, homens de fraque e luvas brancas, valsas, mazurcas, quadrilhas e marchas: o esplendor máximo da estética e da cultura burguesa e aristocrática do período.

Eu não podia perder a oportunidade, só precisava que mais algum amigo embarcasse naquele cometa comigo: aluguel de roupa de época, trem de alta velocidade, pagar mico fantasiada na rua, pisar na barra do vestido, ocupar quase todo o assento traseiro de um taxi, sonhar e dançar! Muito.

bailes no museu orsay

Participantes do baile

E lá fomos eu e uma amiga a 300km/h encontrar outros amantes de viagens no tempo. São 3 os bailes no Museu Orsay: esse primeiro – ocorrido em 16 de outubro – chamava-se Bal Public à la Grande Chaumière; o próximo, que ocorrerá em 13 de novembro (e ainda tem ingressos à venda), é o baile de máscaras da Ópera, conhecido como Carnaval à l’Opéra, e o último, em 3 de dezembro, o grande baile de noite da corte (para o qual – aparentemente – parece não haver mais ingressos).

 


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Como foi o baile

Tudo ocorreu no grande salão de festas do Museu d’Orsay (aquele todo dourado e repleto de espelhos). Um grupo de dança histórica, chamado Association du Carnet de Bals, estava presente comandando a festa.

Às 11 da manhã começava a aula de dança: um mestre de cerimônias (também dançarino) explicava para todos nós as histórias e as danças que ocorriam no tal Bal Public à la Grande Chaumière (que pode ser traduzido por Baile Público na Grande Cabana, pois havia no local uma construção de madeira com telhado de palha que vendia água e vinho aos clientes sedentos de tanto trotar e valsar no jardim aberto).

bailes no museu orsay

O salão e os participantes

Por mais que estivéssemos todos misturados no salão, sabíamos quem era do grupo, tanto por dançarem divinamente quanto por estarem vestidos com as melhores roupas de época.

A difusão deles no ambiente também foi essencial para que aprendêssemos as coreografias (na primeira meia hora eu achei que nada ia dar certo, todo mundo errava tudo, todo mundo pisava nos vestidos, mas logo aprendemos).

Eram coreografias muito animadas e fáceis de dançar, ao menos depois da terceira tentativa, pois lembram muito as quadrilhas das festas juninas no Brasil. Sabemos que a quadrilha que dançamos no Brasil tem origem francesa (a ponto de até hoje dizermos en arrier, en avance, tour), mas observar isso pessoalmente é muito encantador.

bailes no museu orsay

Os bailantes

Mas nem só de passos de quadrilha vivia o Baile da Grande Chaumière, as pessoas também dançavam o frenético cancan, as animadas polkas, e as famosas valsas.

Eles nos ensinaram valsa e alguns passos de polka. Nós até dançamos coreografias em que trotávamos com polka e logo valsávamos pelo salão, num troca-troca frenético de par: o que era muito divertido.

No entanto, o cancan e algumas coreografias de polka mais elaboradas eles dançavam sozinhos – em grupo – para nos mostrar: um espetáculo!

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As roupas

Ao abordar a temáticas das roupas, o mestre de cerimônia disse que, nos bailes diurnos, as mulheres sempre usavam chapéus. Havia na entrada do baile da Grande Chaumière um local que alugava chapéus, caso as damas estivessem sem nenhum e quisessem entrar para dançar.

Não que fosse proibido entrar sem chapéu: mas esse era um sinal de que a mulher que não o portasse estava ali procurando trabalho. Era um dos muitos códigos velados de uma sociedade em que tudo se entendia (ou subentendia) sem precisar entrar em detalhes.

Eu, que não sabia desse código específico, aluguei meu vestido em Bruxelas e não gostei dos chapéus à disposição, acabei indo só com umas plumas de pavão na cabeça! Mas a maioria estava assim, tive larga companhia.

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Eneida e os quadros temáticos

Como era tudo uma brincadeira, e só queríamos viajar no tempo, ali havia todo tipo de roupa e penteado. Algumas pessoas simplesmente não têm paciência, ou coragem (porque é necessário um pouco de loucura), para usarem fraque, luvas brancas ou espartilhos e vestidos com crinolinas de vários aros: tinham alguns homens só de calça e camisa social, outros de terno, mulheres de vestido de festa dos dias atuais e até moças de vestido curto.

Mas era divino ver as roupas de algumas pessoas que mergulharam totalmente na viagem. Duas russas loiras de vestidos azuis espartilhados comprovavam que as duas brasileiras morenas não eram as únicas loucas que viajavam e alugavam roupa.

E as mulheres do grupo de dança haviam feito até os cachinhos dos penteados da época. Suas roupas eram tão fiéis, que até o leque pendurado na saia do vestido – para que a dama estivesse sempre com as mãos livres – eu vi em alguns modelitos.

Muitas usavam a luvinha curta dos eventos diurnos (luvas longas femininas são para eventos de gala noturnos). Algumas tinham chapéus, outras usavam flores no cabelo, entre os tais cachinhos ou coques.

Algumas usavam os vestidos mais fechados, comum aos eventos diurnos, outras estavam com aqueles modelos esplendorosos de festa, braços de fora, com decote princesa, em que os seios saltam das rendinhas, babados e frous-frous.

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O “imperador”.

 


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Muitos homens usavam suas luvas brancas – o máximo da elegância em um baile: não é a mão dele que te encosta, é doçura do algodão branco. Por mais que trotemos e valsemos, nenhuma palma da mão suada pegaria na mão da dama: luvas brancas apenas.

Havia até alguns rapazes com as faixas de nobreza cruzando o peito, e – por galhofa – ao se encontrarem nos passos da dança diziam: Senhor Marques! E o outro assentia com a cabeça e respondia: Senhor Barão! E num segundo já estavam longe de novo, no deslizar do baile.

E que diferença entre dançar com quem estava ali só para se divertir, e dançar com quem estava ali como parte do grupo de dança histórica! Nós éramos uma dupla que se esforçava para dançar (eu e minha amiga – por sinal – havia muitas duplas femininas), mas no troca-troca das coreografias, quando você passava para os braços de um dançarino da companhia: nossa! Ele te levava – não sei como – literalmente te guiava, e num piscar de olhos já estávamos longe, dançando bem.

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Final de festa no Jardin des Tuileries

Essa é uma experiência que não vou esquecer jamais, graças ao Museu d’Orsay, que se entende enquanto espaço de cultura, mas também de educação, divertimento, lazer e descobertas (tudo associado à escolha de um tema); e graças ao Conexão Paris que dá as dicas chaves para todos os gostos.

Eu viajei no tempo, graças ao Conexão Paris, e foi maravilhoso!

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Clique aqui e leia todos os artigos escritos pela Eneida para o Conexão Paris.

Ingressos e visita guiada ao Museu d’Orsay

Para evitar filas compre com antecedência seu ingresso para o Museu Orsay, há uma entrada prioritária para quem já tem o ingresso (clique aqui).

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