Por Fernanda Hinke, criadora dos passeios de bike do Meia Noite em Paris. Fotos de Alfredo Brant
Ontem, Artur Avila estava em todas as grandes mídias nacionais e internacionais: O Globo, Folha de S.Paulo, Revista Piauí, Le Monde, Le Figaro, The New York Times. Artur foi o primeiro brasileiro e latino-americano a receber a medalha Fields.
Artur Avila, gênio da matemática, se divide entre o eixo Rio de Janeiro/Paris. Artur é carioca, hoje naturalizado francês. Morando em Paris há 14 anos, ele trabalha sobre sistemas dinâmicos para a academia brasileira (Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada, IMPA) e a francesa (Centre National de la Recherche Scientifique, CNRS).
PhD aos 21 anos e com mais de 50 artigos publicados ao longo da carreira, Artur vem acumulando prêmios importantes, entre eles a medalha Fields, a mais prestigiosa recompensa pelo reconhecimento de trabalhos em matemática.
Artur não é o que se espera de um cientista. Ele possui uma personalidade única e gosta de pouquíssimas coisas, entre elas comer bem. Quando ele está no Rio ele trabalha na praia, no Leblon. Em Paris, seu local de trabalho é a cama.
Artur vive Paris de uma maneira peculiar. A beleza da cidade não o impressiona. Os confortos urbanos, como a facilidade do transporte público, também não chamam sua atenção. Artur não frequenta os museus, nunca foi ao Louvre e recentemente viu pela primeira vez a torre Eiffel de perto e achou a sua estrutura feia.
O Conexão Paris teve a oportunidade de entrevistá-lo e de acompanhá-lo durante a maratona de fotos e entrevistas na semana que antecedeu a entrega da medalha.
O CP o auxiliou também na escolha do terno – Dolce & Gabbana – para o evento oficial, indicou a melhor barbearia de Paris e reservou para ele uma sessão fotográfica. Em seguida, o entrevistamos. Não falamos sobre matemática e sim sobre seu lado B.
Quando chegou em Paris?
Cheguei aqui no início dos anos 2000, nem havia defendido meu doutorado no Brasil. Quando cheguei, comecei a investigar como poderia me estabelecer por aqui. No segundo semestre de 2001, fiz meu pós-doc no Collège de France e na sequência fui contratado pelo CNRS. Desde então, vivo entre Paris e Rio.
Gosta de Paris?
Faz uma pergunta mais fácil (risos). Gosto de algumas coisas, outras não. A pergunta é muito complexa para uma resposta monossilábica. No geral, viver aqui é difícil, a vida é corrida, cansativa, as pessoas são duras.
OK. Então me diz do que você menos gosta.
Muitas vezes tento pegar um táxi e se eles não querem te levar, simplesmente te ignoram. Tudo parece ser longe, você tem que fazer muitas baldeações no metrô. Os restaurantes tiram férias no verão, no almoço fecham cedo. Os happy hour também acabam cedo e daí fica tudo muito caro. Os bares são chatos, se você for homem e sair sozinho, nem sempre te deixam entrar. Uma vez eu estava em um pub, no Grand Boulevard, com um amigo e convidei outro. Mas o porteiro não o deixou entrar, mesmo sabendo que estávamos lá dentro o esperando. Era um dia de semana nada de especial acontecendo. Isso me tira do sério. Ah! Eu também não gosto do inverno. Eu nunca fico aqui no final do ano.
E do que você mais gosta?
Paris é muito charmosa, adoro andar pelas Ilhas de Saint Louis e La Cité, ver a Notre Dame, passear pelas pontes, pelo Sena. A partir de Paris, posso ir a qualquer lugar na Europa com trens saindo de dentro da cidade, isso facilita. O chocolate aqui é de qualidade.
Paris revela surpresas pontuais, recentemente me encontrei com o Gromov no metrô, um dos matemáticos mais respeitados do mundo, fiquei muito feliz.
O sistema de saúde é eficaz e me deixa tranquilo. E andar pelas ruas é seguro, você não precisa se preocupar por onde está andando.
Qual a grande diferença entre viver no Rio e em Paris?
No Rio eu me sinto mais saudável, vou mais à academia, à praia, faço tudo a pé. Em Paris, sinto falta de encontrar casas de sucos a cada esquina para tomar um açaí. E as pessoas fumam menos.
Você convive com os parisienses? Gosta ou não deles?
Convivo com brasileiros e franceses que vivem em Paris. Os parisienses “de berço” tem seus circuitos sociais já bem construídos, o que torna a interação mais difícil.
O que mudou nos seus hábitos parisienses ao longo destes 14 anos?
No início, eu frequentava ópera, teatros e concertos. Atualmente, prefiro coisas mais informais.
O que você faz atualmente para se divertir?
Vou a happy hour tomar coquetéis com os amigos do trabalho, vou à academia, às vezes me encontro com amigos brasileiros. Frequento bons e acessíveis restaurantes, mas não abro mão de ir uma ou duas vezes ao ano em um excelente restaurante.
Quais bons restaurantes de Paris você já experimentou?
Tour d’Argent, L’Ambroisie, Pierre Gagnaire, Guy Savoy, Grand Véfour.
Fale um pouco da sua rotina de trabalho em Paris?
Bom, passo uma média de 2 a 3 meses em Paris, depois um tempo similar no Rio. Mas viajo para vários lugares do mundo para participar de Congressos.
Em Paris, tenho dois escritórios: um na Universidade Paris VII, perto da Bibliothèque Nationale de France, e outro na Universidade Paris VI, em Jussieu.
Não gosto de ler para evoluir, quando vou aos meus escritórios, prefiro conversar com meus co-autores algumas horas por semana. Passo a maior parte do tempo em casa, na internet e, às vezes, resolvendo grandes problemas matemáticos.
As preferências de Artur
Um lugar: as Ilhas do Sena
Uma comida: magret de canard
Uma sobremesa: sorvete Bertilhon, cacau-whisky
Um restaurante sofisticado: Le Grand Véfour
Um restaurante com bom custo-benefício: Languedoc
Um vinho: Borgonha, especificamente o Gevrey-Chambertin
Uma cor que represente Paris: cinza
Um filme em Paris: O Último Tango…
Uma grande personalidade francesa: Henri Poincaré
Se você quiser saber o que Artur Avila faz como matemático, recomendamos a matéria escrita por seu amigo pessoal, João Moreira Salles, para a revista Piauí. Na sua opinião, esta é a única matéria realmente precisa sobre o seu trabalho.
Clque aqui para ler um artigo da Revista Piauí sobre o Artur
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35 Comentários
maria eliete borges da silva
Parabéns pela matéria sobre o “genio’ brasileiro!!! Precisamos de mais alguns “genios” brasileiros, e talvez com isso nosso País se torne aquele do futuro!!Muito bem conduzida a entrevista, pela Fernanda!!
Marina Seminova
Gostei da matéria e parabéns pelo prêmio. Só acho pena – da parte do entrevistado, gênio de uma disciplina, mas com pouca curiosidade intelectual para uma cidade como Paris. Com certeza uma das mais belas e mais completas culturalmente do planeta. Saber apreciar o valor do patrimônio histórico e cultural que nos rodeia (e que temos a sorte de conhecer) é uma grande riqueza e uma forma de inteligência também.
LuciaCarneiro
O protagonista, o feito, a estampa, o elemento surpresa são os ingredientes para o sucesso da reportagem de Fernanda. O “rabugênio” premiado matemático é de charme excêntrico por direito e merecimento. Para completar o estilo Marlon Brando sexy em época aurea, só falta a Perfecto.
Ótima mesmo a matéria com entrevista e bonus do “questionnaire Proust”.
Parabéns Artur Avila.
Parabéns ConexãoParis!
Cristiane Pereira
No meu comentário esqueci de dar os parabéns pra Fernanda (e como jornalista, não posso comenter essa injustiça!): parabéns Fernanda, ótima entrevista, vc traçou um ótimo perfil do Artur!
Marcello Brito
Parabens CP e Fernanda H., a entrevista esta excelente!
Roberto Halfin
Entrevista saborosa de ler. Descontraída. Parabéns Fernanda! Parabéns Arthur!
Carla Peluso
Parabéns Artur Ávila. Primeiro sul-americano a ganhar a medalha Fields. Fico especialmente feliz em trabalhar no IMPA e saber que você é parte essencial deste Instituto. Que orgulho !
Ana Flávia Gomes Paiva
Parabéns pelo seu trabalho e pelo grande exemplo q vc se tornou Artur! E um parabéns bem especial p minha amiga Fernanda Hinke pela excelente entrevista!!!
Coralice
Parabéns pela reportagem.Gostei do lado B…..
Milena F. - Viver Plenamente Paris
Realmente ele está de parabéns! Eu que adoro matemática desisti do bacharelado no segundo ano de faculdade e fui para a psicologia, mas guardo muitos amigos na área e sei o quando esse prêmio é importante para o reconhecimento dos matemáticos!
Só acho uma pena que ele veja Paris com lentes cinzas, o texto me passou uma imagem bem pessismista de Paris.
Morando aqui há quase 6 anos, só posso discordar… Mas é óbvio que isso é tão pessoal, gostar ou não gostar de algo, sentir-se bem ou não… Não é uma ciência exata, mesmo se a gente tem tendência a tentar convencer à todos que o mundo é como o vemos.