por Rodrigo Lavalle
Um assunto urgente e delicado que a Prefeitura de Paris está ansiosa para resolver é o dos “cadeados do amor”. A nova prefeita da cidade, Anne Hidalgo, pediu ao seu assessor de cultura, Bruno Julliard, que encontrasse uma solução “artística, solidária e ecológica” para o problema. Proibir e multar não é a solução, visto que a cidade ganha em potencial turístico com a prática. Mas, ao mesmo tempo, ela traz riscos sérios aos monumentos nacionais (sobrepeso nas pontes), ao meio ambiente (grande quantidade de chaves jogadas no rio Sena) e aos próprios turistas (queda dos guarda-corpos apinhados de cadeados. Imagina se um desses cai em cima de algum barco de turistas atravessando a ponte naquele momento, estilo viaduto em Belo Horizonte).
Recentemente o jornal Le Monde escreveu uma matéria intitulada Os “cadeados do amor”, uma doença misteriosa e contagiosa, onde levanta algumas hipóteses quanto à(s) origem(ns) dessa prática.
Segundo o jornal, em Pécs, na Hungria, no início dos anos 80, alguns estudantes encheram de cadeados um portão comum de ferro forjado que ligava a mesquita à catedral da cidade. Mais ou menos na mesma época, em Colônia na Alemanha, os cadeados começam a ser pendurados no portão da ponte de Hohenzollern, perto da estação de trens. Não se sabe qual desses locais foi o primeiro.
Outra teoria levantada pelo Le Monde é que a tradição seja italiana. Em Florença, os formandos da Academia da Saúde San Giorgio tinham o hábito de prender seus antigos cadeados dos armários da escola na Ponte Vecchio. Esse costume foi, posteriormente, levado para Roma. No filme italiano de Federico Moccia, Ho Voglia di Te, lançado em 2007, os dois heróis Passo e Babi prendem um cadeado em um poste da Ponte Milvio, isso ajudou a popularizar a tradição. A partir de 2007, após a queda de um desses postes, a cidade italiana decidiu proibir os cadeados e aplicar uma multa de 50€ nos “criminosos”.
Em Paris, na Pont des Arts, os cadeados começaram a aparecer a partir de 2008, o costume provavelmente importado da Itália. Na noite de 11 de março de 2010, quase todos os cadeados dessa ponte foram “roubados” por um aluno da Escola de Belas Artes e usados em uma escultura de “protesto”. Foi, a partir daí, que os casais passaram a usar a Pont de l’Archevêché, em frente à catedral de Notre-Dame (e eu sempre achei que ela tinha sido a primeira a ser usada). Atualmente, onze pontes de Paris, além de postes de iluminação e outros pontos, são afetados pelo fenômeno.
Nessa segunda-feira, dia 11 de agosto, a Prefeitura lançou uma campanha para incentivar os enamorados a substituir os cadeados nas pontes de Paris pelas selfies. A idéia é “oferecer aos casais a alternativa das selfies, explicando a eles que os cadeados adicionam muito peso às pontes de Paris”, diz a Prefeitura. Os casais poderão “imortalizar seu amor online, ao invés de nas pontes de Paris.”
Adesivos já estão colocados nas pontes sugerindo aos apaixonados que façam seus auto-retratos com seus telefones e depois os publiquem em um site criado especialmente para a ocasião – lovewithoutlocks.paris.fr – ou no Twitter, com os #lovewithoutlocks. “Amor sem cadeados”, tanto no sentido literal quanto no figurado, é uma boa idéia para todos.
“Este é o primeiro elemento de um plano de ação global”, disse a prefeita de Paris. “O que vai simplificar as coisas será substituir as grades por instalações que não permitam pendurar cadeados.”
Óbvio que isso – mesmo que fosse possível de ser feito da noite para o dia – não poderia ser implementado sem que algo seja oferecido em troca aos turistas. Toda a reputação e aura romântica de uma cidade está em jogo nesse momento.
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18 Comentários
Erica Fonseca
Qdo fui à Paris ano passado deixei meu cadeado na ponte,não como gesto romântico,mas uma forma de deixar uma marca da minha passagem pela cidadee quem sabe um dia retornar e encontrar meu cadeado novamente no meio daquele emaranhado,qdo soube que parte da ponte havia caído,me dei conta do problema,realmente não tinha noção do impacto desse gesto,espero ter a chance de voltar antes da retirada dos cadeados se vier a acontecer,acho que a prefeita deve enfatizar com força o risco que este gesto causa e que cada um daqui pra frente eternize seu momento em Paris ou seu amor de outro jeito, afinal são vidas que correm risco,eu não gostaria nada de despencar da ponte, ou mesmo levar cadeados pela cabeça durante um passeio de barco,Paris é muito mais que uma ponte cheia de cadeados!!!
Camila Alcoforado
Quantos comentários malcriados. Sou apaixonada pela Pont des Arts. É a minha preferida de Paris. Passei ontem por ela. Confesso que fiquei assustada com a quantidade de cadeados atualmente. Há um ano atrás, era possível ver um, ou outro, espaço “vago”. Hoje, os cadeados estão, inclusive, um pouco antes de entrar na ponte. Certamente, a ponte não sustentará tantos gestos de amor, mas retirá-los e forçar os casais apaixonados a evitar essa prática, me soa muito infeliz.
Milena F. - Viver Plenamente Paris
A primeira vez que vi esses cadeados foi há algunsq anos justamente em Colonia, na porte atrás da estação, mas quando o fenômeno começou a inundar outras cidades européias já comecei a ser contra. Sinceramente? Acho a maior falta de respeito com o patrimônio histórico, arqueterural e com o meio ambiente… pronto, falei. mas esse assunto me tira do sério mesmo.
Luciana Heck
Paris merece mais respeito. Esses cadeados são de muito mal gosto… AMAR é não destruir
Maurício Christovão
Ainda bem que os casais mais animadinhos não estão colocando algemas, que são maiores e mais pesadas que os cadeados… Acho que a prefeitura resolveria o problema contratando alguém para retirar os cadeados para reciclagem. Aceito o posto!!!
Fernanda
Eu acho os cadeados muuuito feios (mesmo pq muitos enferrujam), acabam com o fundo de qualquer foto… Comparando a idade da cidade e das pontes com esse ato de colocar cadeado em tudo quanto é lugar, essa ideia surgiu “ontem”, ou seja, NÃO é tradição! É uma novidade (não muito feliz) e que Paris pode passar muito bem sem ela. Acho que a Prefeitura deveria/poderia ser + enérgica – ninguém vai deixar de ir a Paris por conta disso…
Ana Stella
Acho que o amor não se prende, quando se ama respeita-se a individualidade de cada um.
Os cadeados enfeiam a paisagem parisiense, sobrecarregam os parapeitos das pontes, trazendo perigo para o turista e para os parisienses.
É preciso retirar e rapidamente!
Acsa
Realmente selfies ñ são de forma alguma um geito de eternizar o amor, pelo menos não comparados aos cadeados. Eu sempre achei super legal a ideia dos cadeados e também muito romantico, não gostaria que acabasse mas como está colocando as pontes em riscos né?