Borgonha, Bourgogne

Borgonha, Bourgogne

Por Marina Giuberti, sommelière responsável pelos cursos de vinho do Minha Viagem Paris

Abençoada por Deus e desbravada pelos monges, a Borgonha é a mítica região que encanta os amantes de vinhos já experimentados.  Para entender tamanha sutileza é preciso ser uma alma sensível e ter um paladar aberto e já experiente, ou seja, muita litragem. É bebendo (inteligentemente) que se aprende. São vinhos extremamente elegantes que fascinam como em nenhum outro lugar do planeta.

A Borgonha localiza-se no leste da França, numa estreita faixa de vinhedos. Ela possui clima continental – ou seja, frio – e duas uvas principais: a tinta Pinot Noir e a branca Chardonnay. A característica dessa região são vinhos monovarietais,  produzidos com somente um tipo de uva. A sua rival Bordeaux produz, ao contrário, vinhos obtidos por corte, um misto ou assemblage de várias uvas diferentes.

Borgonha, Bourgogne

Borgonha, Bourgogne

Pinot Noir e Chardonnay são uvas que têm um poder de mimetismo, absorvendo a identidade do climat onde são produzidas. O climat designa uma parcela de vinhas delimitada pelos monges da Idade Média. As parcelas se beneficiam de condições climáticas e geológicas específicas, que combinadas ao trabalho dos homens, geram um excepcional mosaico de Crus mundialmente reputados. Climat é um nome tipicamente borgonhês, uma alquimia entre um lugar, a natureza, os homens e os séculos.

Para se ter uma ideia da grandiosidade dessa região, é lá que se encontra o melhor vinho do mundo: o Romanée Conti – o príncipe dos reis, na cidade de Vosne Romanée, na subregião Côte de Nuits (em referencia à cidade de Nuits Saint-Georges). Esta região engloba outras cidades como Gevrey Chanbertin, Chambolle, Musigny, Morey-Saint Denis. Todas essas cidades dão o mesmo nome ao vinho que produzem, o que nos lembra que, nessa região, os vinhos se definem por seus locais de origem. Esses nomes dão calafrios e fazem sonhar os apaixonados pelo tema.

Borgonha

Borgonha, Bourgogne

O preço está à altura. Afinal, como me foi dito em visita ao famoso  Romanée Conti, “le plaisir n’as pas de prix” (o prazer não tem preço). Mas nós, sommeliers, temos algumas dicas para driblar isso: podemos comprar um vinho com a etiqueta Borgonha e procurar saber a cidade do Domaine onde foi produzido. Se for  uma das cidades acima, certamente estaremos consumindo um grande custo-benefício. A foto acima é do vinho Borgonha 2000 da Mme-Leroy. O que eu chamo de “mosca branca” dentro de uma carta de vinhos, pérolas raras com ótimo custo-benefício.

Vinhos, Borgonha, Bourgogne

Vinhos, Borgonha, Bourgogne

Na foto acima:  Bourgogne “genérico” feito em Meursault, um branco de ótima relação preço-prazer. E os míticos Meursault do Philippe Pacalet e Puligny-Montrachet do Henri Boillon, pra fazer o tempo parar e ser feliz.

De norte a sul, a região estende-se por 240km em cinco sub-regiões diferentes. Região de Chablis ou Auxerrois, ao Norte, bem próximo de Paris e longe da capital borgonhesa Dijon, produz os mundialmente famosos vinhos brancos e minerais Chablis. Já o coração da Borgonha é a Côte D’Or, ou Costa de Ouro, abrangendo a Côte de Nuits e a Côte de Beaune. Essas sub-regiões produzem os tintos e brancos, respectivamente, mais respeitados e cobiçados do mundo, e representam 10% da área total da região. Mais ao sul, a Côte Chalonnaise, que produz excelentes vinhos (Mercurey, Givry, Montagny…) mais acessíveis para quem quer apreciar a região de uma forma inteligente.

Borgonha, Bourgogne

Borgonha, Bourgogne

E, por último, a região do Maconnais, que além de vinhos produzidos com os já citados Chardonnays e Pinot Noirs, também oferece brancos mais simples, minerais e frescos, à base da uva Aligote (Bourgogne Aligote) tintos frutados e digestos  ideais para o clima tropical do Brasil, à base da uva Gamay (Macon).

Na foto,  Chambolle-Musigny do G. Roumier, o tinto mais delicado, feminino, rendado e sensual da região. Emoção em forma líquida.

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