Por Diego Milatz
A “música de variedades” ou simplesmente “la variété” é um gênero musical totalmente particular. Ele é caracterizado pelas melodias simples e letras fáceis, frequentemente inofensivas, que utiliza a linguagem familiar do dia a dia. O conjunto – letra e música – deve ser fácil de memorizar e deve alcançar não só o público infantil mas sim a maior audiência possível. É um gênero popular e recreativo, destinado “aos jovens de 7 à 77 anos”, segundo a célebre expressão tirada do livro de aventuras do Tintin.
“La variété” é frequentemente descrita por sua leveza e seu lado cândido. Certos artistas a tratam com muita condescendência e tentam dela se distanciar, muitas vezes de forma preconceituosa, já que o estilo tem, pelo menos, o mérito de não ser elitista.
Sem dúvida, o mais popular e característico grupo desse gênero musical é o “Il était une fois” (Era uma vez). Composto por cinco rapazes e uma garota, vestidos com roupas estilo anos 70 (paletós de cores brilhantes, jeans boca de sino, silhuetas afuniladas), eles existiram durante 7 anos na paisagem musical e na mídia francesa.
O encontro
Durante o verão de 1969, sentada a uma mesa na calçada de um café em Saint Tropez, Joëlle (a cantora do grupo então com 16 anos) foi abordada por Serge (o guitarrista) que a perguntou de sopetão se ela queria se casar com ele. A resposta de Joëlle foi também direta : “Vai te constranger se eu disser que sim ? Então sim !”. Seguiram-se então nove anos de amor e de cumplicidade.
Acompanhados de Richard (o baterista-cantor amigo de Serge) e de três músicos, eles decidiram em 1971 formar um grupo musical ao qual deram o nome de “Il était une fois”. O conto de fadas pode então começar.
O começo
Serge é o letrista do grupo, Richard escreve as músicas. O grupo toca pela primeira vez em um palco no natal de 1971. Alguns dias mais tarde se apresentam no Golf Drouot, o célebre templo do rock parisiense dos anos 60 no qual tocava toda a cena musical francesa e internacional de rock da época (David Bowie, The Who etc). Eles ganham em seguida vários concursos regionais de música e terminam por assinar um contrato com uma gravadora. Tudo segue bem.
O sucesso
O primeiro disco fica pronto rapidamente mas, para o grupo, falta alguma coisa. Nessa época era fundamental ter “A” música que ajudaria no sucesso do disco. Essa canção foi escrita em uma noite e se chama “Rien qu’un ciel”. Ela foi o maior sucesso de 1972. A música tocou em todas as rádios e abriu as portas da televisão para o grupo que ficou muito famoso.
A casa de shows Olympia os estende o tapete vermelho, os jornais e a televisão são arrebatados por eles. As músicas seguintes são todas sucessos comerciais fenomenais e os críticos musicais saúdam o trabalho. “Il était une fois” se transforma no símbolo da música popular, alegre e sem preocupações.
Joëlle, o segredo do sucesso do grupo
Ainda que a alquimia seja total entre todos os membros do grupo que respira bom humor, amizade e felicidade, a verdadeira força é Joëlle, a cantora.
Jovem magnífica, esportiva, de olhos azuis efervescentes e de sorriso devastador, ela irradia da tela e do palco sua beleza e seu charme natural. Fotogênica, “telegênica”, ela atrai a atenção de todos. Ela é ao mesmo tempo a melhor amiga, a noiva ideal, a fantasia indispensável, sadia e saudável. Ela é a musa e a alma do grupo, para a qual todos os olhares se voltam, frequentemente em detrimento de seus camaradas.
1975, a consagração
Em 3 anos o grupo lança um sucesso atrás do outro, multiplica as turnês e as aparições na televisão. Os dias de descanso são raros e a popularidade está no topo.
A glória e a consagração chegam em 1975 com a canção “J’ai encore rêvé d’elle”, verdadeira bomba atômica musical que vende mais de 1 milhão de exemplares. É também, para mim, a música que caracteriza melhor a magia desse grupo.
Quarenta anos depois de seu lançamento, essa canção foi eleita a mais bela dos anos 70.
O fim do sonho
Toda história tem um fim e infelizmente nem toda bela história tem sempre um final feliz. Depois de seis loucos anos em alta no mundo todo (Canadá, Alemanha, Inglaterra, Espanha, Turquia e Japão), o grupo está cansado e começa a se desentender.
Joëlle se afasta pouco a pouco do resto do grupo e o casal que ela forma com Serge não sobrevive. Eles se separam em 1978 e o grupo se desfaz definitivamente seis meses depois.
Cada ex-integrante tenta renascer dando início a carreiras solos que fazem pouco sucesso.
Joëlle não se recupera completamente de seu fracasso amoroso. Mal enturmada, perdida, circula rumores que ela começou a usar drogas. Sua carreira solo nunca terá a chance de florescer pois ela morre aos 29 anos no dia 15 de maio de 1982 de um edema pulmonar agudo de cauda desconhecida.
“Il était une fois” continua um grupo mítico que marcou os anos 70 e todos ainda hoje se lembram de sua emblemática cantora Joëlle, cuja morte misteriosa também contribuiu para o seu status de lenda.
O estilo “La variété” conheceu seu período de glória nos anos 70, anos cruciais entre o fim “dos trinta anos glorioso” do pós-guerra e o início das crises econômicas repetitivas. Hoje ele continua a gerar receita, através de rádios dedicadas ao estilo, de programas de televisão regulares e, sobretudo, a cada ocasião de festas familiares e entre amigos nas quais temos vontade de reencontrar a “despreocupação”.
A nostalgia sempre traz algo de bom quando o cotidiano é tedioso e chuvoso.
Escutem a playlist com algumas músicas do “Il était une fois”:
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