Porque o vaso sanitário é separado do banheiro na França. Quando aqui cheguei, essa prática me pareceu insólita.
Ao alugar um apartamento em Paris talvez você estranhe a ausência do vaso no banheiro. Por aqui, as necessidades fisiológicas possuem um espaço só delas.
Nas minhas leituras diárias fui pescando as razões que explicam esse costume. A explicação histórica data, provavelmente, do final do século 19 e início do 20 quando os banheiros (salas de banho) eram considerados um luxo supremo. Um privilégio de classe reservado à aristocracia e à alta burguesia. O banheiro não era visto como uma peça funcional e sim como um sinal exterior de riqueza. Ele recebia uma decoração luxuosa, pias instaladas sobre suportes sofisticados, banheiras com pés, pinturas decorativas nas paredes.
De acordo com a época, luxo não era compatível com mau cheiro. Impossível a existência simultânea entre glamour e odores pestilentos. O sanitário foi assim afastado das magníficas salas de recepção, dos quartos e do luxuoso banheiro. Ele foi enviada para o fundo do corredor, perto da cozinha e dos empregados domésticos.
Os apartamentos construídos da época do Barão Haussmann possuíam – ou possuem ainda – esta configuração. Para alcançar o toilette é necessário atravessar toda a moradia e lá no final, perto da porta de serviço, o WC. Essa prática permaneceu durante quase todo o século 20.
Se vocês me perguntassem qual é a relação atual dos franceses com o vaso sanitário, se ele foi incorporado ou não ao banheiro, responderia que neste início do século 21 ele é mais apreciado do que nunca. O vaso sanitário separado se emancipou e assistimos a sua desforra. De espaço clandestino, hoje, é ele o sinal exterior de riqueza. Possuir um banheiro não é mais um luxo. Luxo é ter espaço suficiente para banheiro e toilette isolado. Luxo é liberar o banheiro dos odores desagradáveis e poder manter esse espaço íntimo.
A presença de um pequena pia é a única diferença entre os toilettes dos séculos 19/20 e os atuais. Com ela, o WC se adapta às regras de higiene do século 21 e salva uma tradição bem francesa.
Mais um detalhe para a lista das diferenças culturais entre o Brasil e a França (leia aqui).
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9 Comentários
Jessica Costa
interessantíssimo o motivo, realmente quando lembramos de filmes que retratam essas épocas vemos os banhos em salas luxuosas e sempre somente a nobreza se deleitando desses momentos.
Maria Helena Tourinho
O ideal antes de conhecer qualquer lugar , é lermos um pouco sobre a sua cultura e história , porque assim entendemos as diferenças , este é o segredo de quem viaja pelo mundo …
Cristina de Souza Gondim
Até que não acho tão ruim assim. Mas deveria ter a pia para lavar as mãos e uma duchinha para a toilete.
Conrado
Se quiser lavar o rabo depois da obra faz o quê? Atravessa o corredor e vai até a sala de banho?
Bidês foram considerados anti-higiênicos na modernidade.
Ricardo Aguiar
Tive a oportunidade de viver alguns dias com uma família francesa e usar esse espaço. Pode até parecer mais prático em função dos odores, mas após ter “finalizado o serviço” ter que ir até o quarto de banho, onde ficam a banheira e a pia, apenas para lavar a mão acaba sendo bem estranho… rsrs
Cristiane Pereira
Sempre achei muito civilizada essa separação do vaso sanitário – e supunha que era só mesmo por praticidade e para separar o lugar “dos cheiros”. Lendo agora sobre os costumes me pareceu fazer ainda mais sentido!
Amarilis Foureaux
Gostei desta prática! Muito melhor mesmo!!e bem mais higiênico também!
Lenira
Bem esquisito
Vi de frente para uma cozinha.
Não faria assim.
Mas cada povo tem seus hábitos.