No artigo desse mês, a brasileira Ana Carolina Dani, sommelière da Cave Legrand, se volta para os chamados “Champagnes de Vignerons”, ou seja, os champanhes de pequenos produtores, que se diferenciam dos crus das chamadas “Grandes Maisons” principalmente pela produção limitada e quase artesanal. São champanhes únicos e dificilmente encontrados no Brasil.
Aproveitar a viagem à França para comprar bons vinhos franceses é um excelente negócio. Ao viajar para o exterior, o brasileiro tem direito a levar de volta para o Brasil até 12 litros de bebidas alcoólicas, o que dá 16 garrafas de vinho de 750ml.
Porém, escolher qual vinho comprar pode ser uma tarefa estressante. Com tantas opções disponíveis surgem dúvidas e incertezas. Para ajudar nossos leitores, iremos publicar a cada mês, em parceria com a Cave Legrand, uma lista de 12 vinhos com excelente custo/benefício.
Por Ana Carolina Dani, sommelière das Caves Legrand
Antes da lista com os melhores champanhes de pequenos produtores, vamos entender um pouco o que o champanhe tem de tão especial?
CHAMPAGNE: UM TERROIR ÚNICO
No hemisfério norte, considera-se que os melhores vinhos sejam produzidos em vinhedos situados entre as latitudes 40º e 50º. Ora, os vinhedos da Champagne têm a particularidade de estarem situados no limite setentrional dos territórios adaptados para a cultura da vinha na França. A cidade de Reims, considerada a capital da Champagne, se encontra a 49,5º e Epernay, sede de importante Maisons, como a Moët e a Chandon, a 49º.
O clima, com influência ocêanica e continental, tem um dos mais baixos níveis de ensolação média anual do país, com temperaturas regularmente baixas (10ºC em média ao ano) e amplitude térmica moderada, o que é particularmente adaptado a produção de brancos com acidez alta. O clima particular da Champagne é ao mesmo tempo a força e o calcanhar de Aquiles da região. Os produtores enfrentam, com frequência, geadas durante o inverno e primavera, que podem ser catastróficas para as videiras.
Outra particularidade, os chamados solos de giz, ou seja, calcários porosos que têm excelente drenagem (importante numa região com chuvas regulares) e que imprimem forte mineralidade ao vinho, uma particularidade dessa região. Um grande champanhe deve expressar, além do “gene” da uva, a mineralidade do solo, com as típicas notas “salgadas” que se sentem com tensão na boca.
A terceira particularidade do champanhe é o método de produção, com a segunda fermentação feita dentro da garrafa. Embora esse método seja utilizado para a produção de vários outros efervescentes no mundo, somente os crus elaborados na região da Champagne podem ser chamados “champanhe”.
CHAMPAGNES DE VIGNERONS
Entre os produtores na França, podemos fazer duas grandes distinções. De um lado, as chamadas Grandes Maisons, como Moët Chandon ou Veuve Cliquot, com produção de milhões de garrafas por ano e que procuram, antes de mais nada, um produto pradonizado para os chamados bruts, que é a entrada de série.
De outro, os pequenos produtores (vignerons), com produção limitada e confidencial. Ao contrário das maisons, elaboram seus champanhes com uvas próprias. São crus únicos e cuja produção confidencial tornam esses vinhos verdadeiras raridades, como o caso dos champanhes de Selosse, de Jérôme Prevost ou de Brochet.
NOSSA SELEÇÃO DE CHAMPANHES DE PEQUENOS PRODUTORES
Vignerons:
(preços em euros com a détaxe)
Jérôme Prevost, La Closerie, Les Béguines – 56,50
Jérôme Prevost, La Closerie, Fac Similé, Rosé – 85,00
Jacques Selosse, Brut Initial* – 90,00
Jacques Selosse, Sec, Exquise* – 92,00
Jacques Selosse, Grand Cru, Extra Brut, Version Originale* – 100,00
Jacques Selosse, Grand Cru, Brut, Substance* – 200,00
Françoise Bedel, Brut, Entre Ciel et Terre – 35,00
Françoise Bedel, Brut, Cuvée Dis Vin – 32,50
Françoise Bedel, Brut, L’äme de la Terre, 2003 – 46,00
Emmanuel Brochet, Mont Benoit – 36,00
Diebolt-Vallois,, Blanc de Blancs, Prestige – 33,50
Diebolt-Valloirs, Blanc de Blancs, Fleur de Passion, 2006 – 71,00
Diebolt-Vallois, Blanc de Blancs, 2007 – 39,50
Tarlant, Cuvée Vigne d’Or – 86,00
Tarlant, Cuvée Louis – 62,50
*quantidade limitada em estoque
Jérôme Prevost
Jérôme Prevost é um minimalista. Seus champanhes são elaborados a partir de uma única casta, o Pinot Meunier, colhida a maturidade ideal (teve Selosse como mentor) e originária de uma mesma parcela “Les Béguines”. A vinícola tem 2,2 hectares e produz somente cerca de 15 mil garrafas por ano. Os champanhes de Prevost não tem a mesma persistência e profundidade que os vinhos de Selosse, mas não deixam de ser complexos, com uma ligeira “sucrosidade” característica do Pinot Meunier, porém bem equilibrada por nuances de clorofila e notas ligeiramente amargas.
Jacques Selosse
Os champanhes de Selosse são hoje referência entre os enófilos do mundo inteiro. A vinícola é conhecida mundialmente pela qualidade e rigor do trabalho feito tanto na vinha quanto na cantina. Anselme Selosse, filho de Jacques Selosse, se tornou, nos últimos 20 anos, uma das personalidades mais marquantes e emblemáticas da região.
A maior parte da vinícola está situada no município de Avize, a cerca de 1 hora da cidade de Reims, na região da Champagne, com 7,5 hectares de vinhas, distribuídas em 47 “parcelas” diferentes. O essencial do vinhedo se concentra na chamada “Côte des Blancs” terra de predileção da uva Chardonnay, mas Selosse também possui vinhas na região da “Montanha de Reims”, onde a uva Pinot Noir é predominante.
Poucos champanhes no mundo possuem tanta profundindade, persistência e resonância quanto os champagnes de Selosse. São champanhes vinosos, gastronômicos, mas que preservam tensão e frescor em boca.
O resultado é consequência de um estilo próprio: colheita das uvas a maturidade ideal (na Champagne é comum colher as uvas um pouco antes do amadurecimento ideal para preservar acidez e frescor), vinificação em barricas de carvalho, envelhecimento longo, (método solera, por exemplo, para a cuvée Substance) que imprime as célebres e típicas notas oxidativas aos vinhos de Selosse.
Durante muito tempo, os champagnes de Selosse foram conhecidos apenas de um limitado e restrito círculo de apreciadores de vinhos no mundo. Hoje, a fama do vinhateiro se “populariza” um pouco mais, mas seus champanhes continuam bastante raros (produção anual de apenas 55 mil garrafas) e difíceis de encontrar.
Françoise Bedel
Vinícola familiar situada no charmoso município de Crouttes-sur-Marne, a cerca de 80 km de Paris. François Bedel é uma das precursoras da biodinâmia na Champagne, em 1998. Toda a superfície da vinícola, de pouco mais de 8 hectares, segue os princípios da agricultura biodinâmica: sem uso de pesticidas, fungicidas e fertilizantes químicos, colheita e vinificação observam as fases da lua, aplicação de tratamentos preventivos no solo.
Uma parte dos champanhes são vinificados em cubas, outra, em barricas de carvalho, afin de criar as condições para uma oxidação programada, dando ao vinho untuosidade e corpo. Bedel gosta também de longos envelhecimentos.
Os champagnes de Bedel, são originais e vinosos, com efervescência e notas oxidativas sutis. Os champanhes repousam longos anos na cave antes de serem comercializados. Outra característica é que são poucos dosados (dosagem zero ou extra-brut). Produção anual de 60 mil garrafas.
Emmanuel Brochet
Emmnauel Brochet é a primeira geração dos Brochets a vinificar as uvas e a elaborar seu próprio champanhe. Ele retomou as vinhas do pai em 1997 e seu primeiro champanhe foi comercializado em 1998. A vinícola tem 2,5 hectares distribuídos em uma única parcela, o Mont Benoit, situado, em sua maioria, na chamada Montanha de Reims, terra de predileção do Pinot Noir.
O vinhateiro trabalha em cultivo orgânico e a produção é de apenas 8 mil garrafas por ano, o que faz de Brochet uma verdadeira pérola secreta. Para os champanhes “safrados”, Brochet privilegia os champanhes monocastas ou varietais, feitos a partir do Chardonnay ou Pinot Meunier. Ele não produz champanhes safrados 100% Pinot Noir, pois afirma não ser um “grande fã” da uva.
Para a elaboração do champanhe, Emmanuel Brochet prefere colher as uvas com amadurecimento ideal (na Champagne é comum colher as uvas um pouco antes do ponto ideal para preservar o frescor e acidez). A vinificação é feita em barricas de carvalho. Os vinhos “claros” envelhecem 11 meses sobre as borras antes de serem utilizados para a elaboração do champanhe.
Diebolt-Vallois
A maison familiar Diebolt-Vallois está localizada no município de Cramant, coração da Côte des Blancs, terra ideal para a expressão do Chardonnay. A família cultiva a vinha na região desde o século 15. Toda os champanhes elaborados pela casa são feitos a partir de uma única uva, o Chardonnay. Com exceção de um único champagne, todas as cuvées de Diebolt-Vallois são vinifcadas em cubas inox. O resultado são champanhes delicados e agradáveis, com notas florais, de frutas cítricas e maçã. A textura é cremosa, mas são champanhes leves a agradavéis, mais apropriados para serem servidos como aperitivo.
Tarlant
Tradicional e dinâmica propriedade familiar, a maison Tarlant tem 16 hectares de vinhas, distribuídas em 57 parcelas que dão origem a uma grande variedade de champanhes. Benôit Tarlant, responsável pela vinificação dos champanhes, é um grande aficionado pelas chamadas cuvées parcelaires. O objetivo é elaborar champanhes excepcionais a partir de “parcelas” isoladas que vão refletir a realidade de cada corte, solo, terroir. A casa trabalha em pé de igualdade as três uvas autorizadas em Champagne: Chardonnay, Pinot Noir et Pinot Meunier. A vinificaçao é feita a 75% em barricas de carvalho, sem adição de leveduras químicas. A família Benoit também prefere dosar pouco os champanhes. Em 2010, toda a produção começou a ser dosado no mínimo: extra-brut (4,5 grl/) ou nature (dosagem zero).
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2 Comentários
Ana Carolina
Obrigada, Mônica ! 🙂 Até muito breve.
MonicaSA
Estive hoje na Cave Legrand. A Ana Carolina é super simpática e atenciosa, e a cave, uau, uma maravilha. Vale conferir.