Aproveitei o novo lançamento da Editora Zahar, numa edição super caprichada e toda comentada, para ler – pela primeira vez! – um dos maiores clássicos da literatura francesa – O Corcunda de Notre Dame.
A animação da Disney tornaram conhecidos os personagens do livro – o corcunda Quasímodo, a cigana Esmeralda, o malvado Claude Frollo, o capitão Phoebus. A estória original de Victor Hugo é trágica do início ao fim, dilacerante; bem diferente da animação. E viciante. À medida que eu ia lendo, ia contando para meus filhos a evolução da trama. Eles, à cada dia, aguardavam ansiosos os próximos capítulos.
Mas, à parte o romance em si, o livro é fabuloso por reconstituir e dar vida à Paris medieval. Victor Hugo era uma apaixonado pela arquitetura medieval e um grande saudosista. Escreveu O Corcunda de Notre Dame em 1830 e, ao longo do livro, lamenta os edifícios, castelos, igrejas e monumentos da Idade Média destruídos ou transformados ao longo do tempo.
Como era Paris na Idade Média, de acordo com o livro:
– Paris, que nasceu na Ilha de la Cité e permaneceu como ilha por muito tempo, já tinha atravessado o Sena e se expandia para as margens direita e esquerda (rive droite e rive gauche). Um grande muro circundava a cidade e a protegia. Aliás, a cidade já havia crescido tanto que, no século 16, já havia sido construída a quarta muralha. Um fosso profundo, com águas do Sena, percorria a muralha.
– Paris era composta por três cidades: a Cité (na ilha), a Universidade (na rive gauche) e a Cidade (na rive droite). Segundo Hugo, “na Cité abundavam igrejas, na Cidade, Palácios, na Universidade, colégios” (eram 42!). Com isso, a Cité pertencia ao bispo, a Cidade, ao preboste, um oficial real, e a Universidade, ao reitor.
Na Cité, havia a Catedral de Notre Dame, a Sainte Chapelle, o Hotel-Dieu (hospital existente até hoje, mas em um novo prédio, do séc.19). Na Universidade, havia a Sorbonne. Na Cidade, o Louvre (não da forma como é hoje, mas um castelo com torres. A réplica pode ser vista no atual museu), o mercado da cidade (Les Halles), o Hotel de Ville (prédio não existente hoje) com a famosa praça da Greve, que já mencionamos aqui, e a Bastilha.
Tanto a Cidade como a Universidade tinham seis portas cada. À noite, as portas eram fechadas.
– Hoje, Paris tem duas ilhas. Na época, eram cinco. As ilhas Notre Dame e das Vacas foram unidas posteriormente e viraram a atual Île Saint Louis. Tinha ainda a ilha Louviers, que não existe mais por ter sido anexada à rive droite no século 19. E, por fim, a Île de la Cité, tendo na ponta a ilhota do atravessador de vacas, que foi anexada à Cité na construção do Pont Neuf.
– Ostentação da riqueza era privilégio dos nobres. Burgueses não podiam portar seda, veludo ou joias.
– A Cité tinha cinco pontes que ligavam a ilha às margens. As pontes tinham casas sobre elas. (A Pont Neuf foi a primeira ponte sem casas.)
– Pelourinhos estavam espalhados por toda parte, sendo o pelourinho do Halles o mais monumental. Açoites, humilhações e enforcamentos aconteciam diariamente, para deleite do povo. Ainda aconteciam afogamentos legais no Sena.
Para aqueles que não têm paciência para as longas descrições da cidade, é possível “pular” os respectivos capítulos, se atendo apenas à trama de Quasímodo e o padre, que amam Esmeralda, que ama o capitão Phoebus. Curiosamente, os capítulos sobre a cidade foram incluídos apenas na terceira edição.
O Corcunda de Notre Dame, de Victor Hugo. Editora Zahar, 490 páginas.
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30 Comentários
Eginaldo santos filho
É interessante saber como as pessoas de hoje em dia curtem a historia da frança pricipalmete a sua magnifica capital Paris,onde tantas tragedias acontesceram.
O que mi deixa trisre é isatamente por esse motivo de ler comentarios frios e superficiais ,falando só da parte ludica mesmo tendo conhecimento dos masacres diariamente praticados ali,dos pelourinhos por toda cidade,quantas vidas de inocentes foram ceifadas para alegria de muitos insanos, em Greve e em Notre Dame,ainda escolhemos inocentemente o nome “Greve” para as nossas reivindicaõções como se não soubesemos a sua origem sangrenta.E sobre a obra de Victor Hugo,esse Tolstoi europeu,que riqueza de detalhes e de sentimentos,
não sei se o que fasso na vida tem ou terá aprovação Divina portanto não posso garantir o que fazem ou fizeram os outros,gosto muito desses autores os concidero como grandes figuras humanas pelos seus legados.
Não é nada pessoal apenas uma reflexão.